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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

NUM INTINDI...


Tinha palavra que não dava pra entender... Sílaba perdida. Letra comida. Verbo direto, envergando. Concordância “disconcordando”... Mas, soava tão singelo e gostoso que desacelerava o coração. Era um pouco enfadonho. Mas, terapêutico e relaxante. Aliviando a pressão do cotidiano estressante.

Visitar aquela gente do campo, na cidadezinha “titiquinha” do interior, foi adentrar num universo particular. A calmaria, abençoada, vinha nos acompanhar. Principalmente, no jeito de falar...   

Deu três dias naquele ambiente e a gente já arrastava a língua, no ritmo do gado ruminando o mato, pra lá e pra cá. Não havia muita coisa a fazer no lugar. As caminhadas lentas, com cajado, relaxavam o andar... Depois de uma semana de grama e leite quente, deu vontade na gente de pegar o carro e se aventurar. Na estrada do nada. Só poeira avermelhada. Mato dos dois lados. E uma indicação peculiar: depois dos “mata burro”, sempre “as dereita” tem de virar. Vai dar em Guararema! 

- Ceis vai passar no Lumbique do Déci? Traz pra mim, uma de Cambuci? Quase que entendi... Alambique virou Lumbique. O Décio, pensei que fosse o décimo! E Cambuci era fruta, e não bairro de São Paulo. Mas havia mesmo a birosquinha do Décio. A primeira da estradinha e tinha aguardente docinha pra gente entorpecer. 

Chegamos alegres na cidade e o povo foi avisando...
- Vai na festa do Pinhão? – festa de que? Pinhão? Que coisa boa, criatura. Deve ter fartura. Bolo de pinhão. Sorvete de pinhão. Suco de pinhão. Pipoca com pinhão...        
- Vamos sim, onde é? Dez quilômetros daqui, na estrada de asfalto. Saímos animados pra grande festa do Pinhão, com as diferentes iguarias na imaginação. 

Ainda na estrada, se viam as luzes e gente chegando aos bocados. Cavalos e pickups. Juntos e estacionados. Gente rica, gente pobre. Dono de fazenda e luz dos holofotes. Na frente de toda a festança, a prova da nossa lambança... 

Nada de pinhão. Só uma faixa enorme:  Bem-vindo à Festa do Peão! Peão boiadeiro! O que faz uma pronúncia...


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9 comentários:

  1. Muito bom. Me lembrei da história do sujeito da cidade que foi numa dessas cidadezinhas aí e viu uma placa dizendo: "Alfaiataria Aguia de Ouro".
    Querendo fazer a famosa crítica 'construtiva', entrou e disse pro alfaiate, um senhorzinho mirrado, com óculos na ponta do nariz:
    - Meu senhor, está faltando um acento agudo na "águia" da sua placa!
    E o alfaiate respondeu, com toda simplicidade caipira:
    - Não é "águia", não. É "agúia", dessas de costurar... :)

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    1. Kkkk essa foi boa. Eu também sou uma eterna,caipira com muita honrra sim senho.

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  2. Ah, esse sotaque “caipirês”, deliciosamente gostoso de se ouvir! 👏🏻👏🏻👏🏻😘🌹

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  3. Só quem viveu na roca pode desvendar os misterios das palavras dos "caipiras".... Mas quando chegamos lá,
    percebemos que "caipiras" somos nos,
    que não percebemos o quanto perdemos
    de simplicidade para viver a vida...

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    1. Tá coberto de razão..sô! Obrigada pelo carinho e pela leitura.

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