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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

DÁ A MÃO PRA MIM?


Bastaram poucos segundos. Olhares alegres e miúdos. Pronto! Já eram amigas.  
Qual o seu o nome? Larissa! E o seu? Luiza! O próximo passo foi Luiza sentar-se na areia sob o nosso guarda sol colorido  protegendo a sua pele branquinha do verão escaldante do litoral quarenta graus. Antes, acenou para a avó informando que estava ali, em boa companhia. Agora, com uma amiguinha! 

Pedimos que fizessem castelos de areia. Preferiram fazer bolos. Muito mais simples. E certamente mais gostoso. Escolhi cobertura de brigadeiro, feita com pinguinhos de areia molhada. Ambas sorriram animadas. Agora vamos buscar água?  

Luiza, com sua expressão pura, pediu que Larissa passasse o baldinho para a mão esquerda e segurou sua mão direita com ternura. As duas pequenas caminharam em direção ao mar. Mãos dadas. Duas. Três. Seis vezes. Não colocavam água suficiente, para voltarem mais e mais vezes.

A cena das meninas de mãos dadas ficou gravada em minha mente. Derreteu feito sorvete em  sol quente o meu adulto coração.  Imagino o mesmo encontro, Lulú e Lalá, daqui uns vinte, trinta anos à frente... 

Lulú, empresária bem sucedida, bilingue, solteira. Lalá, casada, massoterapeuta, blogueira... Pediriam, no máximo, para olhar a cadeira. Fariam perguntas por educação. Onde você trabalha? Pra onde viaja? Votou em quem, por favor? Pronto. A amizade acabou. Cancelada! Juntas no mar e de mãos dadas? Nem pensar.

Mas Lulú e Lalá são crianças. Tem sementes de esperança. Preferem fazer amizades e bolos na areia. Não fazem separações.

Amanhã voltarão novamente a se encontrar. De mãos dadas e mergulhar. No mar que continua igual para todos...  
Que saudades da criança que um dia fomos.

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A PIPA NA VARANDA...

Dei com uma pipa na minha varanda! Presa no vaso de planta. No alto do terceiro andar! Olhei para a rua. Para o fim da calçada. Para o céu. Para o nada. Nesse instante, a mente voa...

Vejo meu irmão, menino, correndo. Pés descalços. Rua de terra. Com um bando de moleques alvoroçados, atrás das pipas azuis, verdes e amarelas.

Uma delas se desgarrava. Ou algum menino, que de propósito cortava. Lá se ia a pipa rodopiando, caindo em giros tresloucados, por sobre as casas e telhados. E todo o trabalho perdido. Jogado... ruas abaixo. 

Lembro da bagunça na mesa da cozinha. Papeis de seda. Tirinhas. Tesoura. Varetinhas. Goma arábica nunca tinha! A cola era água e farinha, que grudava, deixando pelotinhas. A rabiola era a parte que eu mais gostava. Naquela lembrança eu voava. 

Voltei os meus olhos novamente para a varanda. Agora olho para o outro lado. Vejo Amir e Hassan. Os dois amigos afegãos pelas ruas de Cabul. Também corriam atrás das pipas, sorrindo contentes. Não havia separação. Nem empregado, e patrão.

Cruzaram a esquina do meu prédio e olharam o arranha céu. Amir teve medo. Hassam escalou rapidamente os três andares, catando a pipa e descendo. Feriu os joelhos. Feliz e sangrando, entregou a pipa ao amigo, dizendo: - Por você, eu faria mil vezes! 

As lembranças das Pipas do escritor Khaled Hosseine “Viviam dentro dele como um pedaço gostoso de passado, perfeitamente encapsulado. Uma pincelada de cores naquela tarde cinzenta.”  

Sai do livro e voltei o olhar a varanda. Nem meu irmão. Nem os amigos afegãos! Apenas eu e a pipa na mão. 

Devo guardar? Consertar? Sair correndo e empinar? 

Se o maior presente ela já me deu... Voar! 


*                          *                                                                            

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O AMOR QUE MACHUCA...


Reconheço dois tipos de nordestinos, antagônicos e diferentes. Aquele que fala grosso e é talentoso desde menino, como o Lua, Suassuna, Dominguinhos... 
E aquele que fala fino. Um tipo franzino de corpo fininho. Mas que dele não se duvide. É cabra da peste, como se fala no Nordeste. Não trate com desdém! Quem tentou, não se deu bem. 

Gilsinho era assim. O melhor jardineiro que já conheci. Bom na tesoura e de cortador. Trabalhava com amor. Cuidava da grama. Arrancava o mato e o espinho da flor. E quando a praga se espalhava pelo chão, fazia uma lenta e perfeita catação.

O problema do Gilsinho não era a preguiça. Muito menos a fé. O problema era a “ mulé”! Todo domingo, Gilsinho vinha prosear no nosso alpendre e se punha a lastimar. Amo muito a danada. Mulher boa. Só um pouco destrambelhada. Apronta demais quando bebe. E como bebe, a desgraçada. Cuido dela e dos quatro filhos. Nenhum dos quatro é meu. O problema é de madrugada. Larga eu e os filhos e vai pra balada. Já fui buscar ela travada. E ainda por cima, me trai a desalmada... 

Ouvimos os tristes relatos, imaginando o descaramento da mulher. E o Gilsinho completava... mas eu amo essa bandida! Desgraça da minha vida. E saia cabisbaixo da nossa casa, por entre a grama aparada e as flores do jardim.

No domingo passado, Gilsinho veio arretado dizendo ter encontrado a solução. Agora já deu! Mandou a mulher embora, Gilsinho? O que aconteceu? 

Quem vai embora sou eu! Vou voltar pro nordeste. Sou cabra da peste. Aqui fico mais não. A danada me enfeitiçou. Largar dela eu sei que não largo. Mas matar, eu sei que mato! 

Falou com autoconhecimento e as mãos aflitas segurando a tesoura afiada de cortar espinhos.

Faz muito bem. Vai em paz, Gilsinho!


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