Tá certo que a família estava unida e feliz. E que as
crianças eram pequenas e se contentavam em brincar de artistas mirins. Com maquiagens,
microfones e imitações dos seus ídolos da tevê. Mas era tão bom de se ver!
Tá
certo que ninguém ficava pendurado no celular, mandando vídeos e trocando mensagens
com amigos de fora. Os mais importantes estavam ali e agora. Mas aquele drink azul, unia
toda a família...
E todo ano era assim. Natal na casa do irmão mais velho. Às
vezes, no mais novo. Às vezes, na casa da mãe. O drink azul abria as
comemorações! Lembro vagamente a receita... Soda, gin e Curaçao
blue, pra completar. Na borda, açúcar. Ah, e o limão
cortadinho, que não podia faltar!
Tá
certo que depois vinham camarões empanados, trazidos pelos cunhados. O bacalhau
português, da sogra orgulhosa. A maionese da mãe, tão leve, feita com amor para chegar no ponto certo no liquidificador! E a noite inteira para sorrir e trocar presentes. Presentinhos. A gente não tinha lá muito dinheiro...
Ninguém reclamava das redes. Não
havia redes. E os políticos? Deviam agir como sempre. Mas não era esse
o assunto da gente. Era sempre aquele drink azul.... Mortal! E hoje, imortal. Abria o
apetite e o coração. E tinha algo marinho nele. Cor de oceano profundo. Onde a família, unida, mergulhava feliz e celebrava o mundo.
Faz um tempão tudo isso. Já não
temos mais esses grandes natais na família. As crianças cresceram e passam a
festa com outras famílias. Alguns casais se dissolveram. O irmão mais velho se foi... a cunhada, também se foi. A mãe, não consegue mais andar, muito menos fazer uma leve e breve maionese.
E quando a saudade aperta, eu lembro daquele
drink azul... Deve ser culpa dele, essa minha vontade de chorar...
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OBRIGADA PELA VISITA!
FELIZ NATAL!