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terça-feira, 9 de setembro de 2025

A CASINHA NA ÁRVORE...


Robinson Crusoé. Mogli. Tarzan... Alguns heróis das aventuras na selva ainda moram no meu imaginário. E eles saíram sem pedir licença. Das fábulas e do meu pensamento. Enquanto eu subia lentamente, degrau por degrau, a escada da pequena casinha, construída em cima de uma antiga árvore da fazenda. Era como se eu visse a minha história de vida invertida. Eu ia subindo e me tornando cada vez mais jovem... 

No primeiro degrau, desapareceram as dores nos joelhos. No segundo, a doença incurável da mãe que se foi... No terceiro, o trabalho chato e rotineiro sumia feito nevoeiro. No quarto, o marido cansado virava o antigo namorado. Do quinto em diante eu já era estudante. Adolescente. Um pingo de gente. E pronto! Criança outra vez. Com uns cinco anos. Ou seis... 

Entrei na casinha com a alma em sobressalto. Enormes troncos rasgavam o chão e furavam o teto não muito alto. Uma beliche. Um lampião por perto para quando escurecer. E um alpendre pra ver o sol nascer... e morrer. Fiquei lá por algumas horas, comendo goiabas verdes, araçás e amoras. Como se o tempo parasse. Só às vezes, o grito do Tarzan ecoava na mente, passando num cipó, muito rapidamente... 

E ao descer a escada, degrau por degrau, eu já não era igual. Uns bons anos mais jovem, talvez. Tanto bem que me fez! 
Por isso, de vez em quando, se me aborreço ou o mundo fica sério demais, subo na casinha da árvore para rever os velhos sonhos e sorrir uma vez mais. Mesmo que não exista mais a casinha. Nem a árvore no jardim... 

Eu agora me recolho. Em algum lugar criança, dentro de mim... 




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VEM AÍ... NOVIDADES E NOVAS PLATAFORMAS INESPLICANDO!

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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O CASACO CARMIM...


As pessoas mais queridas e amadas do meu convívio passado usavam casacos.

Não desfrutei muito tempo com minha avó materna, uns seis anos apenas, mas lembro do seu casaquinho marrom. Tricô. Feito a mão. Ficava por cima de um vestido largo. Ou de uma camisola de flanela estampada, já no fim de sua caminhada, mais frágil e adoentada. Era quentinho quando ela me abraçava. Cheiro de vó. Aconchego de amores e sabores. Sopa de couve, e sabonete Alma de Flores. 

Minha tia também tinha um casaquinho. Era azul, com dois bolsinhos pequenos. Cardigan. Sempre tinha umas moedinhas. Às vezes, balas de hortelã. Ela pedia pra eu pegar lá dentro. Casaquinho perfeito! 

Até minha mãe teve um casaco marcante. Vermelho, com botões gigantes. Dava a ela juventude e elegância. Usou uns dez anos, sem constrangimento ou pudor. Na maioria das festas e comemorações. Não esqueço aqueles botões.

Os casacos deixam marcas. Os pequenos e os grandes. Lembro dos filmes clássicos dos anos cinquenta. Homens e mulheres com casacos de lã. Em Paris. Nova Iorque. Amsterdã... 
Ou numa ponte em Veneza. A cena era sempre a mesma. Despedida, com muita elegância e tristeza. 

Deixo pra lá os casacos da Europa... O que me importa são os casaquinhos das mulheres queridas que conheci e conheço por aqui. Marcas que não tem preço. 

A Dona Domingas, por exemplo... Faz limpeza aqui no prédio. Vejo de longe seu casaquinho carmim. Tem sempre um sorriso e um bom dia pra mim. 

Doem suas pernas. Anda já curvada. Batemos papo na escada. Ela conta da família. Tem três filhos, um só trabalha. O marido não pode. Só atrapalha. Tem netos que não acabam mais. 

E ela, aos sessenta e cinco, com asma, bronquite e rinite, ainda tem que trabalhar.  
Ah, Dona Domingas, merecia muito mais. 
Tá na hora... do seu casaco carmim se aposentar...



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AGRADECIMENTO! 
Exposição “ Mulheres, o poder além das imagens”, na Pinacoteca de Santos!
Linda iniciativa da jovem e talentosa fotógrafa Isabela Garcia, retratando o universo feminino, representado por 21 mulheres atuantes na Baixada Santista. 
Muita honra e alegria de ter sido uma delas!



                                                    Inês e Isabela/ Pinacoteca de Santos