Eu procurava minha bandana. Lembrava de ter guardado
naquela gaveta. Não era original, mas dava um ar de Janis Joplin, em Woodstock. Eu queria isso, uma pitada de rebeldia, na minha fantasia.
Mas o achado mais devastador foi o
interior daquela gaveta esquecida. Aquela do meio do armário. Que eu sempre abria só até a metade. E à bem da verdade, eu via somente a parte da frente. Onde estavam as meias de seda que eu usava nos invernos gelados. Todas, com um fiozinho puxado.
Fui abrindo a gaveta com cuidado. Mãos um pouco frias. Parecia um movimento interno. Quase gástrico. Uma espécie de bulimia. Trazendo de volta coisas não
digeridas. Peças guardadas com datas vencidas. Muito bem escondidas.
Depois das meias, saltaram três sabonetes. Devem ter sido sachês perfumados. Ganhei do namorado. Seriam verdes ou azulados? Agora eram translúcidos, inodoros e amassados.
Depois das meias, saltaram três sabonetes. Devem ter sido sachês perfumados. Ganhei do namorado. Seriam verdes ou azulados? Agora eram translúcidos, inodoros e amassados.
Mais no fundo, encontrei uma luva. Minúscula. Mal cabia em meu dedo mindinho.
Devia ter uns cinco aninhos quando ganhei da minha tia. Lá estava ela. Com seus dedinhos
de sono e incontáveis anos de abandono.
No final, as lingeries. Duas cintas-ligas! Nunca usadas. Uma violeta. Outra cinza! Os botões não fechavam. Tirei da gaveta e estavam grudadas em um corpete. Bonito. De renda preta. Ainda na moda. Se eu usasse. Se eu soubesse que tinha. Se eu lembrasse da gaveta...
No final, as lingeries. Duas cintas-ligas! Nunca usadas. Uma violeta. Outra cinza! Os botões não fechavam. Tirei da gaveta e estavam grudadas em um corpete. Bonito. De renda preta. Ainda na moda. Se eu usasse. Se eu soubesse que tinha. Se eu lembrasse da gaveta...
Eu nem sabia mais o que procurava. Achei uma faixa azul bacana. Poderia servir, ao invés da bandana. Mas foi no fundo da gaveta, que encontrei a ironia. Uma peteca de penas coloridas. E, na base almofadada,
um bichinho sorrindo com a frase: bem-vinda!
Era, atrás das fantasias — a minha criança, lá no fundo, escondida.
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