Às sete acordo. Tomo banho. E quero melhorar
o mundo.
O dia é uma folha em branco. Meu otimismo é a
roupa recém-lavada que visto na manhã onde tudo parece possível.
Às oito caminho. Os compromissos e as memórias
se entrelaçam. Projetos se desenham no horizonte. Os ensaios de ontem ganham
forma na minha mente arejada. O sucesso caminha ao meu lado, descalço e
sorridente. Sou o otimismo que corre na areia. A alma passeia.
Às dez sento para escrever. E as palavras se
dispersam em folhas que caem e a clareza se esconde atrás de montanhas. A
inspiração hesita. O texto gravita, solto, sem contorno. Não insisto. Há dias
em que a alma se veste de outono.
Às quatorze almoço. O corpo assimila os
nutrientes, a mente absorve as horas engolidas. Tudo se mistura no menu – o que
fui, o que serei, o que ainda não entendi e não sei.
Há renovação no mastigar e as frutas da
estação me lembram que a vida segue em ciclos, em fomes, alternâncias de
humores. Às vezes, tensão. Às vezes, flores. Oscilações da alma.
Às quinze toca o celular. Retomo o fôlego,
ajeito o corpo. A vida pede sequência, ainda que a alma preferisse uma “sesta”.
Às dezessete, desempenho total. Escrevo,
resolvo, organizo o carnaval. Como se a tarde entendesse sua missão de me
reconciliar com o dia impreciso e lento. Há uma pressa, uma necessidade de
fechamento.
Aproveito esse instante, sei que sumirá ao
cair da noite.
Às vinte,
respiro fundo, mas o mundo me invade.
A tevê cospe sua tragédia diária,
e a esperança, que de manhã eu vestia, agora tem manchas de dúvida e pessimismo.
Minha alma, com "tdah", oscila outra vez.
Às vinte e três, busco novo equilíbrio, vejo
uma série leve ou parto para um livro.
E já é meia noite. Queria ter dormido antes. Queria
ter regado as flores.
Queria
ter cantado no microfone. Vou deitar apressada.
Amanhã acordo cedo. Tenho que melhorar o
mundo.
************************************
VISITE O CANAL INESPLICANDO NO YOUTUBE E VEJA
AS CRÔNICAS FALADAS!