Ontem foi verão. De repente, pulamos o carnaval, embora mal tenhamos tirado a areia dos biquínis.
Não deu tempo de guardar o samba das escolas e o outono chegou, derrubando folhas e algumas promessas. Logo, férias de julho, crianças correndo e eu ainda procurando a
tampa do Tupperware perdida no Ano-Novo. Depois vem a primavera, com flores que
mal se abrem antes de murchar, e num instante, é Natal outra vez.
O que aconteceu com o tempo? Perdeu o freio? Ou será que o mundo virou um toca-discos com a borracha laceada, onde a agulha dança sem controle, pulando faixas e nos deixando tontos?
Antes, as tardes eram compridas como as saias de nossas
avós. Agora, são bermudas curtas, calças cortadas sem noção.
A medicina se gaba de nos dar mais anos de vida. Muitos de nós chegarão aos cem, brincando. Que adianta, se os dias saltitam e disparam à nossa frente. Parece, ou estão mesmo cada vez mais curtos? Escandalosamente curtos. E rápidos.
Querem
que vivamos mais, mas nos tiraram o luxo de viver devagar. Não há mais tempo
para tardes preguiçosas, para fazer um bolo no forno, para olhar a vida passar
sem pressa, como quem vê um barco deslizar no rio de Piraporinha. O tempo agora
é frisson de um mar revolto em Ibiza e nós, náufragos, riscando aflitos os dias no calendário virtual.
Lembro das tardes em que o sol demorava a se pôr, e nós, crianças, acreditávamos que o amanhã estava tão longe quanto a lua. Hoje estamos sextando em menos que sete dias. Bobeou é sexta de novo.
Corremos para viver mais, mas, nessa pressa, esquecemos de viver a paz. Talvez seja hora de parar, desligar o motor, o celular e ouvir o silêncio. Quem sabe, nesse instante, o tempo volte a ser nosso aliado. Vamos voltar o whatsapp à velocidade normal de uma voz humana e monótona, por que não?
E o nosso velho
toca-discos, com sua borracha laceada, talvez toque a vida em sua melodia
original, sem pressa de chegar ao fim.
Crônica feita em 17 minutos e 42 segundos. De repente, passou.
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