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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

DE REPENTE, PASSOU...

Ontem foi verão. De repente, pulamos o carnaval, embora mal tenhamos tirado a areia dos biquínis.

Não deu tempo de guardar o samba das escolas e o outono chegou, derrubando folhas e algumas promessas. Logo, férias de julho, crianças correndo e eu ainda procurando a tampa do Tupperware perdida no Ano-Novo. Depois vem a primavera, com flores que mal se abrem antes de murchar, e num instante, é Natal outra vez.

O que aconteceu com o tempo? Perdeu o freio? Ou será que o mundo virou um toca-discos com a borracha laceada, onde a agulha dança sem controle, pulando faixas e nos deixando tontos? 

Antes, as tardes eram compridas como as saias de nossas avós. Agora, são bermudas curtas, calças cortadas sem noção.

A medicina se gaba de nos dar mais anos de vida. Muitos de nós chegarão aos cem, brincando. Que adianta, se os dias saltitam e disparam à nossa frente. Parece, ou estão mesmo cada vez mais curtos? Escandalosamente curtos. E rápidos.

Querem que vivamos mais, mas nos tiraram o luxo de viver devagar. Não há mais tempo para tardes preguiçosas, para fazer um bolo no forno, para olhar a vida passar sem pressa, como quem vê um barco deslizar no rio de Piraporinha. O tempo agora é frisson de um mar revolto em Ibiza e nós, náufragos, riscando aflitos os dias no calendário virtual.

Lembro das tardes em que o sol demorava a se pôr, e nós, crianças, acreditávamos que o amanhã estava tão longe quanto a lua. Hoje estamos sextando em menos que sete dias. Bobeou é sexta de novo.

Corremos para viver mais, mas, nessa pressa, esquecemos de viver a paz. Talvez seja hora de parar, desligar o motor, o celular e ouvir o silêncio. Quem sabe, nesse instante, o tempo volte a ser nosso aliado. Vamos voltar o whatsapp à velocidade normal de uma voz humana e monótona, por que não? 

E o nosso velho toca-discos, com sua borracha laceada, talvez toque a vida em sua melodia original, sem pressa de chegar ao fim.

Crônica feita em 17 minutos e 42 segundos. De repente, passou.


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quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

ÚLTIMAS CEREJAS...


Fiquei constrangida quando servi pela terceira vez os pedaços do Chester do ano novo. Só que agora, em forma de suflê. Pelo menos foi leve. Ontem, já estava bem desfiadinho, desossado, ao lado da maionese.

As cerejas também foram servidas. As últimas! Algumas, machucadinhas. E a última delas, sempre a última, com gosto amargo. Ah, o espumante pela metade, fechado com a rolha plástica, também perdeu o gás. Raras eram as borbulhas. Nem franziam nosso nariz.

Comemos e bebemos mesmo assim. Felizes, rotundos e satisfeitos. Afinal, em tempos de fome mundial e abismos sociais, o desperdício chega a ser desonesto. 

Nos próximos dias, voltaremos ao normal. Cada um na sua rotina, esquecendo grande parte das promessas durante as sete ondinhas. Da fortuna almejada nas lentilhas. Dos desejos secretos e sacanas escondidos nas uvas baconianas. Das previsões mirabolantes da mãe de santo...

Até o bulling com as uvas passas vai passar. O ano novo começa com todas as velhas questões que deixamos de resolver no ano que passou. Tudo continua onde parou.

Mas uma coisa eu levo comigo neste novo ciclo. A maturidade e os anos da pandemia me ensinaram. Comerei Chester em junho, se tiver vontade. Abrirei espumantes numa terça, ou quarta-feira à noite, depois do trabalho e sem motivo qualquer. Colocarei uvas passas, coentro ou o que desejar na maionese, sem me importar com a opinião alheia. Eu escolho o que vai na minha ceia!

E vou comprar mais cerejas, amanhã mesmo. Porque aquela última, foi de amargar...                                        



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