Ouvir o vento. O mar. Uma ária de Bach...
Ouvir a dor de um amigo, sem dar aparte. Ouvir com cuidado e atenção aos detalhes. Ouvir os silêncios e as entrelinhas. O som da respiração mansinha. Suspiro de compreensão. Os sussurros do homem e da natureza reverberam no coração.
O som da brisa que balança as folhas do coqueiro. A água do rio que desliza entre as pedras, gotejando na alma por dentro. Pingos leves e perfeitos. Ouvi-los, exige silêncio.
Os bichos também falam. Os insetos pequenos rodopiam ao redor da lâmpada, zunindo até cair. São loucos ou tontos no seu girar sem fim. Deviam se inspirar nos pássaros que solfejam soltos no jardim.
Precisamos nos aquietar para ouvir os sons mais sutis. Disque-disques. Chiadinhos. Zum zunz, tiriris. A voz das abelhas, zabelês, bichos esquisitos que conversam no ar. Os ouvidos mais elegantes e treinados ouvem sustenidos ao longe e notinhas fantasmas no ar.
Enquanto isso o vento geme e pede ajuda. Um uivo faminto. Lobo eólico que chega rodopiando as folhas, tirando as telhas das casas e sacudindo as almas em desassossego. É urgente cuidar do planeta para ouvirmos sons mais ternos e menos violentos.
Pois é no oásis do silêncio, por fora e por dentro, que ouvimos com enternecimento e calma. Ouvimos a alma em conversa íntima e suave com o coração. Solitude sem solidão.
É quando cessa a fala que ouvimos o melhor dos cantos. O canto da natureza, poetando.
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