Páginas

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

COM QUE ROUPA EU VOU?


Era uma mala grande e vazia. Aberta em frente de casa. Deixada numa noite fria...

O que eu coloco na mala? O vazio me cavocava. Vou pegar duas calças e uma saia. Colocar bem espaçadas. Ainda vai sobrar espaço. Posso colocar uma jaqueta e um casaco. Não sei pra onde vou. E quem me convidou.

Coloco escova de dentes? Cremes? Sabonetes? Coisas de higiene pessoal? Alguns hotéis oferecem. Que hotel será esse? Não há um bilhete, voucher, nem sinal de estadia. Nada além da mala vazia.

Vou colocar livros. Meu vinho favorito. Acho bom colocar bombons. De licor. E se escorrerem pelos tecidos grudando os vestidos? Levo sabão. Tesoura. Linha e agulha. Alguma coisa que faça costura e remende qualquer estrago. Não sei que horas eu parto.

Que tipo de roupa levar? Será sério o lugar? Vestidos longos, sapatos altos, colar. Ou melhor sandália, camiseta velha e uma almofada de sentar. A mala vazia me olha pedindo pra repensar. Coloco perfumes? Ou sementes naturais? Não sei nada mais. Aonde vou? O que vou precisar?

A mala é muito grande. Cabe grandes travesseiros. Devo levar dinheiro? Cheques, cartões? Ou cartas guardadas de amor? Ninguém a meu lado para dizer. Só a agonia da mala vazia prestes a me enlouquecer.

Vou encher de coisas sem muito pensar. Misturar trecos. Objetos. Uns sem sentido, outros de valor. Um secador, um coador, um diploma, uma nota de cem. Meu coelho de pelúcia também. Roupas íntimas! Pode ser que eu fique muitos dias.

Agora sim, a mala está lotada. Abarrotada. Deixada no mesmo lugar. Eu sigo com o vazio de não saber como e quando vou viajar.

Vida e morte. Ambas são assim. Uma mala que a gente carrega e não leva no fim...

 

*********************





*************************

OBRIGADA POR VISITAR O BLOG!


PARA COMPRAR OS LIVROS DE CRÔNICAS INESPLICANDO
CLICANDO NOS BANNERS ACIMA. VERSÃO WEB.
OU NA AMAZON, ESTANTE VIRTUAL E PAPALE'S EDITORIAL

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

POESIA DAS PEQUENAS COISAS


Um sopro leve de vento. O soar distante do mar. Uma nota solta de Bach...

Os sussurros do homem e da natureza reverberam ao coração. respiração mansinha. O som dos lábios no beijo, pausas e entrelinhas. Suspiros de compreensão. 

A poesia das pequenas coisas... O som da brisa balançando as folhas do coqueiro. A água do rio deslizando entre as pedras, refrescando a alma por dentro. Pingos leves e perfeitos. Ouvi-los, exige silêncio.

Os bichos também falam. Os insetos pequenos rodopiam ao redor da lâmpada, zunindo até cair. São tontos no seu girar sem fim. Deviam se inspirar nos colibris e borboletas que pairam sobre as flores, silenciosos no jardim.

Quando nos aquietamos, ouvimos os sons mais sutis. Disque-disques. Chiadinhos. Zum zunz, tiriris. A voz das abelhas, zabelês, bichos esquisitos que conversam no ar. Os ouvidos mais treinados ouvem sustenidos ao longe e notinhas fantasmas no ar. 

O som das pequenas coisas. Tão difícil de hoje se ouvir.

Um vento forte tem gemido alto nos últimos tempos. É um uivo faminto. Lobo eólico que chega rodopiando as folhas, tirando as telhas das casas e deixando as almas em desassossego. Rufam os trovões da natureza aflita. O planeta grita em lamento. Um dia foi verde, agora é cinzento. Gelos caem fazendo barulho. 

O Deus-natureza nos envia uma tarefa urgente. Recuperar a Terra e restaurar a paz, para ouvirmos os sons mais ternos e menos violentos. Os sons pequenos.

Porque é no oásis do silêncio, por fora e por dentro que ouvimos a alma em conversa íntima e suave com o coração. 

E quando cessa a fala, ouvimos o melhor dos cantos. Da natureza, poetando.


 

 ************************                      


JÁ VIU AS CRÔNICAS FALADAS NO CANAL INESPLICANDO NO YOUTUBE?  

EXPERIMENTE! E SE VOCÊ GOSTAR, INSCREVA-SE NO CANAL.