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terça-feira, 21 de março de 2023

MEUS QUERIDOS CONVIDADOS...

Há tempos sonho com a festa. Na lista, especiais convidados. Gente que admiro e me identifico. Alguns já mortos, outros vivos. No sonho sempre é possível. Pobres e ricos. Famosos com quem jamais conversei. Amigos e parentes, alguns que já partiram. Outros que simplesmente cismei. Todos reunidos na sala da minha casa.

Os grupos eram mais ou menos organizados, para ninguém se sentir deslocado. Escritores, músicos, esportistas, gente comum do presente e do passado. Ninguém preocupado.

Num canto, um papo bom rolava entre Manoel de Barros e os caseiros do meu irmão, o Alex e a Eva. Fiquei um tempo com eles falando do sítio, das cigarras e das bromélias. Manoel pediu um vinho e um abridor de madrugadas para iniciar sua garrafa. Eva contava das plantas e dos bichos que cuidava. Manoel anotava as frases novas que criava.

No outro canto, ouvia-se rock. Bob Dylan e Cris Kristoferson contavam os bastidores de Woodstock. Em meia hora ouvi maravilhas, a inspiração das obras primas entre histórias estranhas e indigestas. Sorte à beça. Não convidei jornalistas, nem polícia pra festa. 

Sentadinho no chão, como numa conhecida foto, o mestre Drummond. Ele pegou uma almofada, desarrumou um pouco a minha casa, olhou os livros gastos na cabeceira, louças usadas na cristaleira e se sentiu mais à vontade na minha sala de verdade. Fiquei meia hora em silêncio, no chão ao seu lado. Havia um imenso recado naquela simplicidade.

Clarice Lispector e Luis Fernando Veríssimo sentaram no sofá- divã, lado a lado. Tomavam um drink forte e nada falavam. Apreciavam aquela solidão. Pra não aborrecer, dei um oi de longe só com a mão.

Alguns convidados não vieram. Gil e Caetano ficaram na Bahia. Milton ficou em Minas. João Gilberto deu o cano. Seu Jorge batucava com Elis Regina. Beto Guedes e Lô Borges chegaram depois, ficaram de papo num clube da esquina.

Perto do piano, meus irmãos e Paul McCartney, que muito falante, dedilhava no teclado. Lennon, Ringo e George não convidei. Iriam ficar conversando entre si. Eu queria o Paul só para mim.

A festa esquentava. A princesinha do skate no corrimão da sala deslizava. Rebeca Gusmão pra lá e pra cá saltava, enquanto Kurten e Federer viam na tevê uma final de tênis australiana. Não bebiam nada. Ofereci... Um Gatorade? Uma banana? Continuaram focados nos erros não forçados.

Vinicius e Toquinho tomavam uísque na cozinha. Passei por eles várias vezes para ouvir músicas e poesias... Miucha sorria.

Os dois argentinos convidados, Messi e o Papa se divertiam conversando no corredor da casa. Pouco se entendia ou quase nada, mas a conversa era animada.

A festa não duraria muito tempo. O meu vizinho do lado é um chato sujeito. Antes da reunião terminar, James Taylor foi escolhido por todos para cantar.

Minha mãe apareceu servindo café quentinho de saideira. Sean Connery  preferiu chá. Ela foi buscar.

E por fim, São Francisco de Assis, o primeiro dos meus queridos convidados entrou pelo terraço, junto com os bichos, a Melody, a Priscila, a vira lata Sissi, a gata Felina e muitos outros animais encantados que bagunçaram tudo, pulando no colo de todos os convidados.

Eu acordei.

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