Eram furinhos. Uns quietinhos. Outros a
borbulhar. Sinais de vida nas minúsculas cavernas onde moram os bichinhos. Eu e
minha curiosidade caminhamos na areia da beira mar.
Um pescador surgiu ao lado. Pés enrugados. Rosto de sol e sal. Na mão, um tubo improvisado e de buraco em buraco fazia a sucção. -Zédazisca, ele se apresentou! Demorei pra entender a autodenominação. Isso se come, seo Zé? Os peixe gosta! Sorriu com os dentes falhos à mostra.
É pitú? Pitú é de água doce, moça. Esse é o corrupto. No Brasil tem muito. Aqui na praia, só alguns. Igual na política, é difícil de pegar. Se esperar uns dez furos eu acho um pra mostrar! Aguardei com curiosidade, achando graça e verdade. Na calmaria da praia, um papo bom de pescador. Caça e caçador.
É dura a profissão? Deus é pai e o mar meu patrão. De dezembro até março, só dá maré à noite. E à noite eu
não venho não. Cato de março em diante. Olha só que corrupto grandão...
Da boca do tubo no meio da areia
molhada saiu o bichão esquisito cheio de pernas e cor rosada. Feio pra danar. O
Zé pegou com a mão, me mostrando de perto e colocando num latão. Esse corrupto
não faz mal a ninguém. Ajuda a pescar garoupa, corvina, robalo, badejo e
Merluza. Quinze reais a dúzia!
Agradeci com um sorriso a aula de pesca artesanal e segui caminhando, pés descalços na água e no sal,
lembrando dos buraquinhos na areia, dos corruptos e das risadas pescadas na
minha ignorância.
Eu achando que era pitu. Ele achando
graça... - O único Pitu que eu cato moça... é a cachaça!
******************
Sobre a atividade
Alguns municípios estão proibindo a caça de corruptos na praia, devido à sua quantidade estar diminuindo consideravelmente. As espécies mais comuns na costa brasileira são as do gênero ‹Callichirus› (pronuncia-se /kalikírus).
Nenhum comentário:
Postar um comentário