Páginas

terça-feira, 14 de março de 2023

MORA NO BURAQUINHO...

Eram furinhos. Uns quietinhos. Outros a borbulhar. Sinais de vida nas minúsculas cavernas onde moram os bichinhos. Eu e minha curiosidade caminhamos  na areia da beira mar.

Um pescador surgiu ao lado. Pés enrugados. Rosto de sol e sal. Na mão, um tubo improvisado e de buraco em buraco fazia a sucção. -Zédazisca, ele se apresentou! Demorei pra entender a autodenominação. Isso se come, seo Zé? Os peixe gosta! Sorriu com os dentes falhos à mostra.

É pitú? Pitú é de água doce, moça. Esse é o corrupto. No Brasil tem muito. Aqui na praia, só alguns. Igual na política, é difícil de pegar. Se esperar uns dez furos eu acho um pra mostrar! Aguardei com curiosidade, achando graça e verdade. Na calmaria da praia, um papo bom de pescador. Caça e caçador.

É dura a profissão? Deus é pai e o mar meu patrão. De dezembro até março, só dá maré à noite. E à noite eu não venho não. Cato de março em diante. Olha só que corrupto grandão...

Da boca do tubo no meio da areia molhada saiu o bichão esquisito cheio de pernas e cor rosada. Feio pra danar. O Zé pegou com a mão, me mostrando de perto e colocando num latão. Esse corrupto não faz mal a ninguém. Ajuda a pescar garoupa, corvina, robalo, badejo e Merluza. Quinze reais a dúzia!

Agradeci com um sorriso a aula de pesca artesanal e segui caminhando, pés descalços na água e no sal, lembrando dos buraquinhos na areia, dos corruptos e das risadas pescadas na minha ignorância. 

Eu achando que era pitu. Ele achando graça... - O único Pitu que eu cato moça... é a cachaça!

 

******************
Sobre a atividade

Alguns municípios estão proibindo a caça de corruptos na praia, devido à sua quantidade estar diminuindo consideravelmente. As espécies mais comuns na costa brasileira são as do gênero ‹Callichirus› (pronuncia-se /kalikírus).


Nenhum comentário:

Postar um comentário