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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

ALCACHOFRAS... QUALQUER DIA...

Ela me ensinou a tirar cada folhinha daquela flor escura esquisita e cravar os dentes para tirar o recheio. Molho salgado com um pouquinho de queijo. As alcachofras da tia Nadir ainda continuam fumegantes como antes na minha memória e o sal das alcaparras aguça a ponta da língua, criando uma saudosa e caudalosa saliva...

Dona de um colo macio, peitos redondos e fartos, ela me erguia e colocava em cima da mesa para ver de perto as alcachofras desabrochadas no prato. Chamava de “Carciofi”, um jeito meio italianado. Eu olhava curiosa o preparo. Forno grande. Panelas de alumínio bem areadas. Tomates vermelhos duros e bem cortados e as alcaparras salgadas que ela provava, espremendo seus olhos de tanta azedura. Punha tudo em fervura.

Foi no recém inaugurado shopping que encontrei pela última vez com a tia Nadir. Lembramos das alcachofras generosas que ela fazia nos tempos da minha infância... -Eu ainda faço, igualzinha! Vou fazer e chamo você, qualquer dia...

Anos depois, encontrei no mesmo lugar a sua filha, a prima Eloá, nome inspirado na esposa o velho Presidente Jânio Quadros. Foi um encontro repetido e intuitivamente estranho. Comentei das alcachofras da minha tia e da saudade que eu sentia, já que seu grande coração não aguentou muito tempo e ela se foi, levando junto com ela sua risada, seus enormes peitos, suas receitas e segredos.                                    

Eloá lembrou do molho, do queijo, das alcaparras e ainda me falou do preparo da coroa, o coração da alcachofra que eu nem sabia que existia. As folhinhas dentadas já me bastavam dando sabor e alegria.

A minha é igualzinha. Qualquer dia eu faço e chamo você. Qualquer dia!

Prima Eloá também se foi. Igualzinho sua mãe, o seu coração também não aguentou. Agora as duas devem cozinhar juntinhas. E um dia vão me fazer alcachofras à quatro mãos.

Promessa é divida. Aonde quer que seja. As alcachofras vão reunir a família, desabrochando numa grande ceia. Qualquer dia...

 

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TUDO NUM SÓ LUGAR...

AGUARDE!

Um comentário:

  1. Linda! Adoro alcachofras e as como num dia qualquer, na época delas e sinto prazer em doá-las à minha mãe, que as recebeu de um dos meus pais.

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