As pernas finas e magrelas, quadriculadas de azul, efeito do vento frio vindo do sul, saltavam contentes, espalhando água pro alto e pra frente. Era a primeira vez que as crianças viam o mar. Num dia feio pra danar.
Foram longos dias de espera. Anchieta ou Estrada
Velha? A rota antiga era mais bela. Curvas sinuosas, cachoeiras e mirantes pra
ver do alto da serra. Além dos pontos de
parada, os marcos da Independência. O Rancho da maioridade. A calçada
do Lorena. O pouso Paranapiacaba, provável parada de Dom Pedro ensaiando o grito
e lustrando a espada, sem muita paciência.
Não descemos pela estrada velha. A via
Anchieta era mais segura. E tocar o mar era a nossa aventura. Em cada
curva da pista, um horizonte novo azulava nossas vistas. Ora ao longe, ora ao
fundo, o oceano Atlântico vasto e profundo.
No meio da serra já pesava a atmosfera. Ouvidos
tapados. Prende o nariz e assopra. O ar faz a troca! Chegamos ao nível do
mar. Praia a vista. Mar tranqüilo, sol, areia branquinha, peixes e
conchinhas.
E não é que o tempo virou? A praia ficou cinzenta, o
mar encrespou e o dia esfriou. Os meninos correram para as malas, tirando os maiôs. De tecido elástico, grandes e listrados. Com uma fivela
de metal do lado. Podemos ir assim mesmo? As alminhas aflitas gritaram.
A mãe, que sempre agasalha e compreende, vestiu os
garotos com uma malha grossa e quente. E lá foram eles. De blusa de lã e maiô cafona
pular as primeiras ondas. A praia brava não atrapalhava. Nem o cinza escuro
do mar. Nem a malha pesada.
Vi de longe a cena. Ao saírem felizes da água, ouviram de um chato sujeito... O que acharam desse feio mar
cinzento?
Perfeito! Onde a gente entrou, só naquele
pedacinho... o mar estava azulzinho!
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