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quarta-feira, 16 de junho de 2021

A RUA DE TERRA LARANJA...

                    

          

Tudo ficava meio alaranjado. Os pés, as canelas, os braços e o rosto perto do nariz e da boca que com a mão eram tocados. A rua de terra da vizinhança deixava suas manchas de alegria laranja nas crianças... 

Meninos empoeirados jogavam e corriam descalços na frente do golzinho de dois paus improvisados. Eu morava na casa branca da avenida de asfalto. Rua Conselheiro Justino, que se transformou, mais tarde, na gigante Radial Leste. Virando a esquina, na rua de trás, era a rua de terra alaranjada. Pequena, com casinhas de um lado, e do outro, um muro alto de fábrica, de tijolo descascado. 

De dia e de tarde a rua ecoava ruídos humanos. Risos de meninas e meninos brincando até ao anoitecer, quando voltavam imundos pra casa. Minha mãe sorria quando meu irmão, no banheiro, perguntava: o que é pra lavar direito, mesmo? Tudo. Dos pés ao fio de cabelo. Capricha nos dedos e nos joelhos! Às vezes ele pedia ajuda. Bater com o peito do pé na bola de capotão molhada e dura, criava uma espécie de pele cascuda. Lama dura. Tinha que passar creme e esfregar com força e até escovão. Não reclamavam. Era o preço da diversão. 

Segunda feira, os pés já limpos na meia branquinha e com sapatos engraxados, seguiam para o colégio no ônibus do Colégio do Carmo. Era nos finais de semana que a rua de terra fazia valer o seu destino de rua feliz. Lá estavam bons e antigos vizinhos, todos com filhos... Os portugueses e sua varanda de orquídeas. A família italiana com vinhos e cantorias. Os espanhóis da venda de empanadas... e emoldurando toda a rua, a paisagem laranja colorindo os muros e calçadas.

Foram quatro anos sonhando com a rua de terra que eu via na pele dos garotos só de passagem. Eu não tinha idade... Foi na semana das festas juninas que veio o batismo e a inauguração... Pode levar a menina na rua de terra! Mas não descuida um só minuto dela! 

Toda arrumadinha, vestido de remendos e fitas juninas, larguei de pronto a mão do meu irmão e sai correndo pra tocar o chão. Tirei os meus sapatos fechados, estendi os dedos, alarguei os passos e pisei na terra laranja, sujando meus pés limpinhos com deboche e carinho. Depois achei uma poça d’água e coloquei os pés pra enxaguar. A cor laranja se espalhou pelos poros, pelos pés, pernas e canelas... 

Agora eu sabia, de verdade, o prazer que era!


 

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Um comentário:

  1. Como era Boa a vida, tão simples e sempre em boas companhias, vizinhos amigos, família unida, amigos companheiros.
    Q saudades da rua de terra.

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