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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

AS APARÊNCIAS ENGANAM

Era um homem magro. Um metro e noventa. Olhos fundos. A pele enrugada e castigada de sol. Dizia poucas palavras.        - Sim, seora! Vou agora. 

Fumava e andava com um facão afiado na cintura. Cortando lenha, mato e tudo aparecesse de ruim pela frente. Dizem que assim, tinha dado fim a um traidor em Goiás, um tempo atrás. Eu tinha muito medo do seo Abel. 

De tarde era tranquilo passear. O sítio tinha três saídas. De um lado, o grotão, com um olho d’água e árvores grandes que fechavam a paisagem e davam ar de mata sombria. Havia uma ponte de eucalipto para atravessar. Mas eu não me atrevia. Eu tinha medo de encontrar o Seo Abel.

Do outro lado, um caminho suave que cruzava a horta e ia dar no lago. Lindo e raso. 

E, por fim, a saída principal passando pela casa do seo Abel, onde tinha um poste de madeira e uma fumaça que saía branca feito um fantasma da pequena chaminé.

Na noite fria de lua cheia eu quis ouvir o som do silêncio e me encher de brilho e poesia. Sai caminhando pela horta vazia, passando pelo milharal. Olhei para um lado. Para o outro. E dei dois passos para trás. Esbarrei num ser muito grande, com gravata, calça xadrez e mangas largas que parecia querer me abraçar. 

Tremendo de medo, saí correndo pegando o primeiro atalho. Sem perceber a cara mal feita de abóbora e os cabelos de milho debulhado, do qual era feito o pobre e velho espantalho!

Enchi o peito e sem qualquer preconceito gritei no meio da mata escura... - seo Abel, socorro! Seo Abel, me ajuda!  

E o rude caseiro de facão na cintura que me metia tanto medo surgiu feito um coiote ligeiro e se embrenhou na mata, me resgatando intacta com um sorriso sem graça. 

-Obrigada, seu Abel. 

As aparências e o medo, enganam.

 

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