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quarta-feira, 4 de março de 2020

A MÚSICA DO CHAPÉU...


Passei a infância ouvindo o refrão... “ O meu chapéu tem três bicos. Três bicos tem meu chapéu. Se não tiver os três bicos. Não pode ser meu chapéu.” A melodia grudava feito o chapéu atarracado no meu cocuruto. Meu pai cantava. Minha mãe completava. A tia cantarolava. Eu acabava sorrindo. Só assim, o coro parava. 

Anos mais tarde vim saber o que era o tal do chapéu de três bicos ou três abas. O famoso tricórnio, que se tornou popular nos anos vinte. Todos usavam. Civis e militares. Virou moda. Ganhando até a canção! 

São engraçadas as histórias e costumes familiares que passam de geração em geração. Eu lembro de ter que pedir a benção pra minha tia. Bom dia, “bença tia” e um beijinho em sua mão. Passei anos fazendo o cumprimento até que minha mãe se modernizou... Deixa a menina à vontade! Isso cheira à antiguidade. Já passou! Ainda hoje, lembro da minha tia e a benção tímida que eu pedia... 

As gavetas hereditárias se abrem de vez em quando e a gente se pega fazendo e dizendo coisas ancestrais. Ainda sirvo a mesma sopinha de legumes que a avó Emília fazia. Mordo os lábios de nervoso como meu pai e meu irmão. Gosto de rádio como meu avô. Lembro da minha mãe quando vejo um belo tricô!  

Há um pouco deles todos em mim. O queixo da mãe. A ansiedade do pai. O jeito de rir da prima Eloá. Além das pessoas queridas que conhecemos e vão nos acrescentando gestos e comportamentos na velha alma de retalhos costurados com amor e cuidados.

Quando me deixaram o pequeno sobrinho no colo entre resmungos e começando a chorar... Tirei o seu chapeuzinho e com a peça na mão comecei a cantar... “ O meu chapéu tem três bicos. Três bicos tem meu chapéu... Se não tiver os três bicos...
E no exato instante do canto, o menino ergueu os olhos segurando seu pranto e começou a sorrir...  
Era o velho arquivo, funcionando... Só agora, eu entendi!



*                                                      *                                                *


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12 comentários:

  1. Respostas
    1. Quando vi a figura do chapéu na hora lembrei da música... sem ler seu lindo texto!

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  2. BOM.demais , tão gostoso.de ler.
    Reconheço na memória algumas heranças da família Bari, q passou dos avós para os pais, dos pais para os filhos..
    Morder os lábios na hora do nervoso, o mesmo queixo do pai e da mãe misturados nos filhos, o mesmo humor, o mesmo amor pelo Corintians..rs.
    A sopinha da avó, o tricô de Donolga, inesquecível.
    Herança de minha família, tb a soma de algumas pessoas q passaram e passam pela minha vida.. a longa, feliz e eterna convivência com marido e família dele..essa sou eu.
    Uma soma, uma herança.

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    1. Você me emocionou Soninha... há um pouco ou bastante...de você em mim e de todos que amamos e por nós passaram...

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  3. Uaaaau, lindo demais! No fundo, somos todos herdeiros dos nossos ancestrais! Parabéns por “tornar” isso tão lindo! Muitas lembranças retornando! 👏🏻👏🏻👏🏻😘🌹🌹🌹

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  4. Ahhh quantas boas lembranças... quanta nostalgia... daquelas bem gostosas de sentir. O relato é de suas heranças mas vc sempre nos faz percorrer os caminhos que nos remete à lugares tão simples de nosso passado e de nossas heranças. Obrigada por mais essa viagem no tempo de nossa história.

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  5. Obrigada você Beth... dividindo comigo essas lembranças... bjs sds

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