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quarta-feira, 20 de março de 2019

QUEM MORA LÁ DENTRO?

Um buraco gigante na terra. Uma fissura. Imensa caverna cheia de água e úmida atmosfera... Não dá pra descrever ao certo. Foi uma experiência mística e única, conhecer as furnas! Até então, para mim, apenas o nome de uma hidroelétrica em Minas Gerais. Tudo era bem mais.

As furnas são imensas. Profundas. Extensas. Mexem com a nossa alma, o nosso interior. Diferente dos arenitos, formações rochosas que pela ação da chuva e do vento, formaram gigantescas figuras como a taça, a garrafa e outras esculturas naturais que lembram animais. Contando, claro, com uma imaginação bem generosa... Tudo está por perto, no belíssimo Parque Vila Velha, que respira ares medievais, na cidade de Ponta Grossa. 

As furnas são imensas. Impressionam pela beleza e profundeza. De um lado, a vegetação radiante, onde o sol alcança, trazendo um verde vivo, dando margem à vida e à esperança. Do outro lado, umidade e escuridão. Cinza de solidão. E o barulho intermitente dos pingos de água que soam feito cristal, ditando um ritmo de melancolia, e o frescor natural. 

São cinquenta e três metros de profundidade. Somente os biólogos descem lá com rapel, penetrando nessa espécie de templo. Quem viveria lá dentro? Além das algas e fungos? Quem se adaptou àquelas circunstâncias? E vive ali, isolado das diferentes formas de vida e convívio do nosso mundo? 

Os andorinhões-de-coleira-falha são pássaros ousados que colocam seus ovos nas paredes e são vistos na paisagem. Mas são os lambaris que vivem lá de verdade! 

Vivem lá. Moram lá. Uma espécie que conseguiu se adaptar à caverna mudando suas nadadeiras... São os lambaris das furnas! Espécie pouco conhecida. Endêmica. Esquisita.

Fico imaginando, se pudessem sair das furnas e conhecer grandes lagos ou mares abertos... Alguns, certamente nadariam velozes, livres e felizes, no novo e imenso universo.
 
Outros, talvez, continuariam reclusos, porém seguros. Isolados na sua furna profunda.  Adaptados e sós. Como alguns de nós...      


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quarta-feira, 6 de março de 2019

"VERGONHAZINHA..."

Vergonha de tudo. Da espinha. Da marca da vacina. Do joelho grande na perna fina. Do nariz de batata! 

É dolorido esse tempo impaciente, entre criança e adolescente. Quanta vergonha a gente sente! Vergonha do corpo que espicha. Do sanduíche da mãe de pão com salsicha. Vergonha da roupa que não combina. Da voz que desafina. Do elogio exagerado da tia. Eu lembro de cada vergonhazinha que eu sentia... 

O distintivo do colégio minha mãe prendia com alfinetes no bolso da camisa branca de tergal. Eu achava um improviso total. Nunca cogitei pegar agulha e linha para costurá-lo. Era vergonha boba que eu sentia! 

O tempo foi passando e aos poucos, a minha timidez se desmantelando. Hoje ando bem sem vergonha. Às vezes, cara de pau. Nada mais me deixa mal. Nem o corpo maduro. As pintas nas mãos e nas pernas. A roupa meio velha. Nem a farofa que na boca cheia  esfarela. Levo a alma leve e quiçá, mais bela. 

Já não tenho bobagens a me preocupar. Falo sozinha se me der na telha. Entro no mar e sento na areia. Danço e canto nas luas cheias. Solto palavrão vendo coisas inúteis na televisão. Por que, não? Ando falando com desconhecidos. Nas ruas. Nas filas. Edifícios.

Acordei e dei bom dia pro zelador, para o vizinho e um vendedor. E com bom humor, sorri pra aquele senhor charo que insiste em me ignorar. Um dia ele vai aceitar. 

Eu, que tinha vergonha de espirrar e dizer... atchim.  
É dura a puberdade, sim! 
Quando ainda não se sabe...  que a gente relaxa depois da meia idade.



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RECORDAÇÃO DA BIENAL DO RIO 2019...

UM ENCONTRO PRA LÁ DE ESPECIAL...