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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

AOS MESTRES, COM CARINHO...


Quando ela olhava por debaixo do bifocal, não era bom sinal. Dona Terezinha dava broncas literárias. Com rigor gramatical. Na moral! Mas era doce, amiga, inspirava amor. Lembro até hoje das regras das preposições: para, per, perante, por! 

Dona Carmita, de matemática, era mais didática. Enfática. Ensinava com a razão. E os números decimais, tão reais e leais, brincavam à sua disposição. A Elisa de geografia, descrevia a natureza com maestria... Eu chegava a ver as águas do São Francisco com seus rios e a enorme bacia... A turma, encantada, aprendia com a sede de quem espera, no deserto, um copo d’água. Elisa era apaixonada. 

Outros mestres marcaram por seus detalhes. O César, de inglês, e sua calça xadrez. O Laurindo, de história. Mãos trêmulas e sempre rouco. Avental amarelo, com giz no bolso. A Célia, de desenho, e sua mancha no joelho. E muitos outros mestres Cleuza. Dirce, Gaspar... que ainda vivem na minha memória, junto com a lousa, o giz de cera e um apagador imaginário que jamais irei utilizar... 

Todos eles merecem mais que uma maçã. Eu daria a estes mestres queridos, pêssegos, morangos, bombons de licor. Uma macieira, inteira, em flor. Tamanha missão. Tamanho amor! 

Mas eu era fã mesmo das aulas de ciências. Dona Seiko e suas experiências! Genética e reprodução. Encontrei com ela algum tempo atrás, já beirando os oitenta. Não lembrou do meu rosto. Falei meu nome e ela completou com o sobrenome. Disse, sorrindo, que jamais iria esquecer... 

A sala em polvorosa. Quando ela, nervosa, gritou: - Vocês já sabem tudo e por isso não ficam calados. Digam então... quando é que um ovo não está galado? Eu levantei a mão e mandei de primeir... Quando é ovo de galinha solteira! 

Dona Seiko jamais esqueceu... Nem eu!



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