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quarta-feira, 14 de março de 2018

ENTRE DOIS PONTOS

Eu estava sem carro. Resolvi ir de ônibus. Logo no ponto seguinte, ela entrou. Cara gorda. Rosto redondo. Com um vestido largo e florido. Cambaleante. E carregando quatro sacolas cheias e semi-transparentes. Duas em cada mão.
Com muito esforço e ajuda, passou pela catraca para sentar ao meu lado, me espremendo junto à janelinha. O meu sorriso amável foi o ponto de partida...
 “Agora eu pego essas fraldas de graça lá no postinho. A moça já me conhece... Também! Alguém tem que ajudá. Já falei até com o bispo. Não posso pagá. O véio lá em casa ( imaginei, de cara, que fosse o marido...) tá morrendo na cama há uns três anos. Até xixi e cocô faz na fralda. Toma dez remédio por dia. Deve dá uns quinhentos conto. Eu posso? Posso não. E sabe de uma coisa? Não resolve nada. Você nem imagina o que tá dando jeito nele. Depois eu conto, (e continuou sem pausa) porque o menino não ajuda mais em casa. Foi morá com a coroa dele na casa dela ( imaginei que fosse o filho). E pra piorá, fez uma criança que tem problema...”  
Que problema ? ( interferi pela primeira vez, depois da interminável avalanche de fatos).
“Não sei não, minha filha. O menino não anda, não come, não fala. É uma doença de nascença aí. Pego leite de graça pra ele ( mostrando um dos pacotes). Mas o meu filho não liga muito não. A mulher cuida do filho sozinha e quando faz uns bico pra ganhar dinheiro, na segunda e na sexta, ainda me deixa o menino pra cuidá. Eu é que seguro tudo mesmo. Cuido do véio e do novo! Haja fralda pra tanto mijo... ( rindo alto no ônibus lotado).  Eu acho é que o meu filho tá de enrosco é com outra. A mulher diz que ele se perfuma todo nos fim de semana e sai de carro pra trabalhá. Ele é instalador de som. Vai instalá o que de noite? E o pior, é que ele sai com o chefe dele. Ou é gay ou tão atrás de mulher. Eu nem tô ligando se for. Só não quero que engane a coitada. Mas vou te contá... a mulher dele também não é santa não. Já namorou Deus e todo mundo. Até gente famosa! Sei lá de quem é esse filho...”
E antes que eu pudesse sugerir um exame de DNA ou dar um pitaco qualquer sobre toda aquela vida derramada em cinco minutos, ela olhou para o ponto na rua... “É o meu! Fui!” E saltou ligeira, arrastando todas as sacolas enormes com fraldas, remédios e latas de leite e saiu esbarrando em tudo e em todos.
Agora, eu não sei que doença tem o marido dela. Nem o que está curando o “véio!” Não sei porque o neto bebê não fala, nem anda. Nem sei se o filho dela é gay ou mulherengo. Muito menos quem é o famoso que saiu com sua nora...
Como é duro andar de ônibus.                                                             ******

NA UNIVERSIDADE UNIMONTE 

 EM SANTOS...


UM BATE PAPO COM ESTUDANTES ... "DO RÁDIO AO BLOG"...

 ABERTO AO PÚBLICO!

COM SESSÃO DE AUTÓGRAFOS NO FINAL!
                                                   

3 comentários:

  1. Não foi um pedido de ajuda....somente um imesnso desabafo...

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    1. E eu nem sequer, pude dar uns pitacos... Não tive tempo, cara Márcia...

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  2. Bem divertido.. imagino direitinho o jeito da mulher..

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