
Eu estava sem carro. Resolvi ir de
ônibus. Logo no ponto seguinte, ela entrou. Cara gorda. Rosto redondo. Com um vestido largo e florido. Cambaleante. E carregando quatro sacolas cheias e semi-transparentes. Duas em cada mão.
Com muito esforço e ajuda, passou pela catraca
para sentar ao meu lado, me espremendo junto à janelinha. O meu
sorriso amável foi o ponto de partida...
“Agora eu pego essas fraldas de
graça lá no postinho. A moça já me conhece... Também! Alguém tem que ajudá. Já
falei até com o bispo. Não posso pagá. O véio lá em casa ( imaginei, de
cara, que fosse o marido...) tá morrendo na cama há uns três anos. Até xixi e
cocô faz na fralda. Toma dez remédio por
dia. Deve dá uns quinhentos conto. Eu posso? Posso não. E sabe de uma coisa? Não
resolve nada. Você nem imagina o que tá dando jeito nele. Depois eu conto, (e
continuou sem pausa) porque o menino não ajuda mais em casa. Foi morá com a
coroa dele na casa dela ( imaginei que fosse o filho). E pra piorá, fez uma criança que tem problema...”
Que problema ? ( interferi pela primeira vez,
depois da interminável avalanche de fatos).
“Não sei não, minha filha. O menino não
anda, não come, não fala. É uma doença de nascença aí. Pego leite de graça pra
ele ( mostrando um dos pacotes). Mas o meu filho não liga muito não. A mulher
cuida do filho sozinha e quando faz uns bico pra ganhar dinheiro, na segunda e
na sexta, ainda me deixa o menino pra cuidá. Eu é que seguro tudo mesmo. Cuido
do véio e do novo! Haja fralda pra tanto mijo... ( rindo alto no ônibus lotado).
Eu acho é que o meu filho tá de enrosco
é com outra. A mulher diz que ele se perfuma todo nos fim de semana e sai de
carro pra trabalhá. Ele é instalador de
som. Vai instalá o que de noite? E o pior, é que ele sai com o chefe
dele. Ou é gay ou tão atrás de mulher. Eu nem tô ligando se for. Só não
quero que engane a coitada. Mas vou te contá... a mulher dele também não é
santa não. Já namorou Deus e todo mundo. Até gente famosa! Sei lá de quem é
esse filho...”
E antes que eu pudesse sugerir um exame de DNA ou dar um pitaco
qualquer sobre toda aquela vida derramada em cinco minutos, ela olhou para o ponto
na rua... “É o meu! Fui!” E saltou ligeira, arrastando todas as sacolas enormes
com fraldas, remédios e latas de leite e saiu esbarrando em tudo e em todos.
Agora, eu não sei que doença tem o marido dela. Nem o que está curando o “véio!”
Não sei porque o neto bebê não fala, nem anda. Nem sei se o filho dela é gay ou
mulherengo. Muito menos quem é o famoso que saiu com sua nora...
Como é duro
andar de ônibus. ******
NA UNIVERSIDADE UNIMONTE
EM SANTOS...
UM BATE PAPO COM ESTUDANTES ... "DO RÁDIO AO BLOG"...
ABERTO AO PÚBLICO!
COM SESSÃO DE AUTÓGRAFOS NO FINAL!