Tem gente que é cascuda. Leva cada pancada da vida. Levanta, sacode a poeira e segue em frente. Não leva a culpa, nem culpa ninguém. Assim é, e lhe faz bem.
É bom gente assim. Que segue sem lamento, aprendendo a seu tempo. Sem muito derretimento. Forjando seu jeito de suportar e viver.
Mas tem
gente que é pura seda. Rasga fácil e se desfaz em pedaços. Basta um
peteleco da vida e a alma se contorce ferida. Um beijo mal dado e lá se foi o
feriado. Uma palavra errada do amigo e a
relação corre perigo. E quando a injustiça começa a rondar, o mundo parece desabar.
É o ser sensível em último grau. No hospital, vive o drama feito um paciente terminal. Aquele que se incomoda. Vê desenho da Disney e chora. E como é duro ser assim.
Dizem que é coisa de
artista, poeta, gente que não sabe ganhar dinheiro. Só crises existenciais.
Sou assim desde
pequena. Os sentimentos vêm gigantes. Muitas vezes, desproporcionais. Para o
bem e para o mal. Mas deixam na alma um bom contorno
final.
Eu tinha uns cinco anos. Sentada no chão da cozinha olhando uma fileira de
formiguinhas que passavam. Como toda criança, impetuosa e por vezes
cruel, espremi com o dedo a última
formiga da turma. Queria tocar. Sentir seu cheiro. Experimentar o caos!
Meu pai, sem ter noção do tecido frágil de que era feito meu coração,
perguntou com preocupação - Você matou a formiguinha? Sabia que a mamãe dela estava em casa esperando ela
chegar?
A frase cravou no meu peito feito um punhal. Foram
dias de choro e tristeza. E a promessa de nunca mais matar uma formiga sequer. Nem as terríveis saúvas, nem as furadeiras.
Nenhuma mãe, nem mesmo inseto, merece essa pena.
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