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quarta-feira, 3 de maio de 2017

DESAPARECIDA! NA ILHA...


              
Podia ter escolhido qualquer uma. Afinal, eram todas iguais. Escolhi a mais fina e comprida. Esbelta. Com a classe imperial das palmeiras. E uma ligeira inclinação para a direita, vista de frente da areia para o mar... 

Era ela a minha árvore. A escolhida. Sabe se lá porque cismei de adotar aquela árvore, que para mim se destacava no meio da Ilha Urubuqueçaba, um relicário da natureza no disputado pedaço do litoral. Era confortável olhar para a ilha e saber que a minha árvore estava lá. Esguia e altiva. Toda vez que eu passava de carro, com a urgência urbana de quem corre sem grandes motivos. Ou quando simplesmente caminhava pela areia e a avistava de pertinho. A minha árvore! Firme, forte, verdinha...

Um dia de maré baixa, cheguei ao pé da ilha. Bati com as mãos nas pedras como quem conquista um continente... e olhei para o alto! Nunca a tinha visto assim. Ângulo diferente. Ar de grandeza. Já estava adulta. Temi pela sua soberba, mas logo pude ver nas jovens folhinhas, a mesma ternura e inclinação. Humildade e gratidão. Continuava minha... 

Mas como tudo que é mortal, o tempo traz, o tempo leva... Foi numa segunda-feira. Olhei para o alto da ilha e a minha árvore não estava mais lá. Procurei com os olhos aflitos e o coração apertado. Mas, não. Havia uma fenda em seu lugar. Uma grande fenda no topo da ilha. Muitas árvores devem ter sucumbido lá. Raios? Humanos? Erosão? Fúria de Zeus? 

Só sei que a minha árvore partiu. Como tantas outras que me encantaram... o meu limão cravo, a árvore de kinkan e até o chapéu do sol que o vizinho, imperdoável, derrubou.... Ela se foi. Deixando saudades...

Agora se junta a terra de onde veio e simplesmente semeia outras árvores que vão surgir, iguaizinhas... ou melhor, parecidas. A minha árvore era única. A escolhida! 

Ninguém sabia que era minha. Eu sabia.
  

                                     Fenda/Urubuquecaba     fotos: Célia Loriggio
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Um comentário:

  1. Q lindo Inês Bari.
    Eu tb tinha uma árvore de estimação, na Via Anchieta.. era linda, imponente, certinha.
    Sempre q íamos p/ o litoral a gente ficava esperando a árvore chegar.
    Não sei se ela ainda existe, começamos a viajar pela Imigrantes.
    Lembrei dela agora, lendo sua crônica..
    Sempre sensível, poético... falando de assuntos q poucas pessoas pensam, mas q qdo lêem se identificam, no mínimo, um pouquinho.
    Adorei.

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