Dona Jana era baiana das boas. Toda
redonda. Peito boludo e traseiro avantajado, desses que levantam a saia branca
quando anda. Vendia cocada na praça da Biquinha. Não tinha quem não a conhecia.
Clientes, noite e dia.
Toda de branco e fitinha do Bonfim, sabia canto nagô
e pedia sempre aos orixás que abençoassem suas mãos divinas e cada filho novo,
que todo ano vinha! Foram cinco doces garotinhos que ela foi fazendo, junto com quindim, paçoca e cocada queimada. Felizes foram crescendo, qual fermento, ao seu lado com muito leite derramado, brigadeiros e bombocados.
O tempo, porém, foi passando. O cabelo da Jana foi branqueando e a pracinha que era doce, jogada de um lado pro outro, foi se acabando... Pulando de canto em canto e com o coração sangrando, Dona Jana e sua barraca foram aos poucos se desmontando.
Agora idosa e magrela, viu indo embora toda antiga clientela. Nem a tradição sobreviveu! Não veste branco e não tem mais a fitinha. Brigou com o orixá e com as novas vizinhas. Até o formato dos doces mudou na pobre e desfigurada Biquinha!
Aonde Jana foi parar? A baiana agora usa whatsapp e montou um web site. E por pura ironia, exibe seus doces em frente a uma academia.
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