Páginas

quarta-feira, 9 de março de 2016

JOÃO DO BARRO, O ESPIRITO SANTO, AMÉM...


Meu irmão já havia me contado sobre a beleza rústica e singela das praias de Meaipe e das águas geladas de Guarapari. Fora isso, só a certeza de que Cachoeiro do Itapemirim era a cidade onde tinha nascido Roberto Carlos. Mas, visitar e conhecer o Espírito Santo foi bem mais que isso.

Mais do que as praias de castanheiras e da moqueca com bananas emborcadas em molho de tomate e sem dendê, como eles insistem em ressaltar, o ponto alto da viagem às terras capixabas foi, sem dúvida, o encontro  com o inesquecível homem que fazia peças e panelas de barro.

São vários os vendedores que ficam na beira da estrada. Mas decidimos parar no “João do Barro”. Nome sugestivo. Descemos.

Logo surgiu o homem rústico de chinelos de dedo e roupa encardida da cor do barro. Sorriu de maneira simpática e nos mostrou suas panelas ressaltando que  eram “as legítimas” e não as panelas das rendeiras, que racham com facilidade, afinal, os nordestinos como ele que haviam trazido a técnica para o local.

Diante do nosso interesse e da descoberta que um de nós era jornalista, o homem sugeriu que acompanhássemos a destruição de um dos fornos que já estava pronto para ser aberto, para ver como queimavam as panelas.

Curiosos e fascinados, fomos adentrando o fundo da fábrica artesanal e o cheiro forte de fumaça e carvão invadia nossas narinas, roupas e cabelos. 

Sob um calor absurdo, o homem com uma escada comum e pequena subiu no forno altamente aquecido retirando a tampa da fornalha com uma marreta. Depois, com outra martelada derrubou a parede lateral onde já se podiam ver as panelas pretinhas e amontoadas, soltando fumaça e calor. Era tudo muito simples para ele. A cada pancada no forno, as fagulhas se soltavam, passando próximas aos seus pés, naqueles chinelos de dedo sem proteção. Mas o João continuava falante, explicando o procedimento com orgulho, maestria e com sua macheza nordestina diante de nossos olhos estarrecidos.

Depois da exibição bruta e inacreditável de abrir fornos, o homem nos levou para outro canto da rústica fábrica artesanal. - "Agora vou mostrar como faço pra modelar..."

Foi aí, que de repente, aquele ser rude, mal vestido e cheirando a fumaça, sentou-se diante de um prato giratório e começou a delinear suavemente em um bloco informe de barro, com suas mãos grossas e calejadas, mas com a leveza de uma pluma e a delicadeza da Demi Moore no filme Ghost. Deu vida, ali em segundos, a um lindo pote com alças, com direito a um  risco com a unha do dedo mínimo, finalizando a parte que faltava na tampinha do pote.

Assim ficou gravada a cena na minha memória. O rústico e delicado. Unidos e ungidos. No homem que fazia potes... e o seu Espírito Santo, amém!     


*      *       *       *     
  













27 comentários:

  1. Parabéns, querida, explicada e explícita Inês!!! Bem-vinda à Blogsfera.

    ResponderExcluir
  2. Adorei e querendo desbravar esse Espírito Santo!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vá mesmo! A Natureza lá, fala sem palavras... Obrigada.

      Excluir
  3. Oi Ines, parabéns! bj grande! SUCESSO!!!

    ResponderExcluir
  4. https://www.youtube.com/watch?v=RnKM0gBf6c0

    ResponderExcluir
  5. Pois é... devagar com o andor que o santo é de barro... valeu Sidney!!!

    ResponderExcluir
  6. Parabéns, Inês, desde sempre uma mulher das letras e poesias. Que venham novas histórias para nos fazer viajar.

    ResponderExcluir
  7. Ameiiii Inês, adoro ouvir e agora ler suas histórias! Muito sucesso, te adoro. Bjs

    ResponderExcluir
  8. Ameiiii Inês, adoro ouvir e agora ler suas histórias! Muito sucesso, te adoro. Bjs

    ResponderExcluir
  9. Ameiiii Inês, adoro ouvir e agora ler suas histórias! Muito sucesso, te adoro. Bjs

    ResponderExcluir
  10. Adorei, Inês...muito legal! Viajei por alguns instantes... Quero mais histórias! Beijão amiga!

    ResponderExcluir
  11. Adorei, fiquei com vontade de fazer esta viagem ...

    ResponderExcluir
  12. Oi Ines! Adorei as histórias! Parabéns... Quero o livro
    bjs

    ResponderExcluir
  13. Enquanto comento...gol da alemanha! heheheheheh

    ResponderExcluir
  14. Incrível... quanta descrição de detalhes, é possível imaginar o lugar e Sr. João

    ResponderExcluir
  15. Pois então Inês, como é gratificante viajar! E como eu viajo com seus textos! Remeto-me ao Brasil de maneira saudosa....muito bom.

    ResponderExcluir
  16. Nascido no Vale do Aço mineiro e escolhi morar em Guarapari , gostei dos relatos desta viagem. Parabéns, e muito sucesso.

    ResponderExcluir