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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A TRAVESSIA DAS CAPIVARAS...

Uma grande família, em fila e muito comportada, atravessava a pista de asfalto da perigosa estrada. O motorista se desculpou da brusca frenagem mostrando a placa: - Pare para as capivaras!

Antigas habitantes de Itaipu, as capivaras foram despejadas do local durante a obra da usina monumental. Uma gigantesca manobra para desviar o rio que feriu gente e desinstalou centenas de espécies e animais silvestres.

Hoje, as poucas capivaras que sobraram são prioridade. Quase santidade. Uma espécie de reparação tardia. Os bichos pacíficos parecem sempre lembrar do triste desfecho familiar e passam altivos pela estrada que já foi sua casa, agora sem medo. Às vezes param para um descanso ou um clique de algum turista no meio do passeio. Sem constrangimento.

Terminada a travessia dos bichos, seguimos até o destino, a Usina de Itaipu. Buracos feitos por tatus, de aço. Imensos. Dentados. Detonadores, tratores e explosões a todo tempo.

Milhares de ajudantes, engenheiros, pedreiros e boias-frias unidos pela coragem e o cansaço dos intermináveis dias. 

Assim as barragens foram erguidas. Usina construída. Abastecendo o país. Não mais abrigavam os animais gentis.

O espetáculo das luzes às sextas feiras para os visitantes de Itaipu é poderoso. Pouco a pouco, cada ponto da barragem é iluminada, ao som de uma música forte e orquestrada.

Os motores da usina estavam desligados no dia de nossa visita. Maior seria o impacto se estivessem jorrando os milhões de litros de água. A plateia aplaudiu no final, energizada, diante da tecnologia apresentada.

A usina gigante iluminada deixou nossas sensações mega ativadas. 

Voltei impressionada. Mas nada, nada se comparou... 

à travessia tranquila... das mansas capivaras. 


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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O CONTEMPLÁRIO...


Sempre imaginei o paraíso em azul e branco. Um imenso oceano com  águas tranquilas, esparramando espumas na areia  fina de uma praia deserta... Isso foi até visitar o Contemplário! Acho que me enganei todo esse tempo. As almas voam mais livres por aqueles campos...        
Sem falar do cheiro fresco das quatro estações que estão todas ali reunidas  e espalhadas no ar. Eu me perdi naquele lavandário na Cidade de Cunha, como quem se esquece no tempo. Eu, que nem sabia o que era um lavandário. Nem a cor e o cheiro das lavandas. Azuladas, mais para violetas! Vivas, com o balançar do vento.  
Foi no meio da plantação que um visitante perguntou quem era o dono daquilo tudo. - Henry! Veio a resposta. Um homem que se encantou com as terras onde o por do sol era o mais fantástico daquela região de montanhas. Resolveu plantar as lavandas e diante de tamanho presente da natureza decidiu dividir com todas as gentes aquela riqueza. Além de dar chance para os locais oferecerem seus produtos de lavanda numa espécie de loja-cafeteria que fica no alto do campo com vista para o grande espetáculo. 
Ah, e havia o biscoito de lavanda com uma pequena xícara de café fumegante vendo o sol se por. E o melhor ainda estava por vir...  
O Contemplário mesmo, onde a mirada é de paraíso, é um simples trapiche de madeira onde o vento bate no rosto e os olhos se enchem de cor. Campo dos sonhos e coisas santas. Paraíso azul-violeta onde moram as lavandas! 
Mas no fundo eu sabia que o Henry não era o dono daquilo tudo.  
Quando eu estava indo embora, olhando as lavandas ao sabor do vento, o sol batendo nas flores, realçando suas cores, descobri a quem pertencia.
Àquela que beijava as flores todos os dias. Que via o sol se levantar... e o sol se por. Que percorria o campo saudando as lavandas de um lado para o outro, livre, como as almas no paraíso.
Era uma abelhinha. Uma pequena abelhinha... que piscou para mim!


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