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terça-feira, 22 de agosto de 2023

JOGO COMPLICADO DO AMOR


Às vezes está em nossas mãos o tempo inteiro. Às vezes, nas mãos do parceiro. Começa a trama. A delicada cama, feita de barbante. Entramos para brincar. Depois, o jogo começa a esquentar. Dedos por baixo. Dedos por cima. Num balanço ágil e solto. Fácil de realizar. Com o tempo, as mãos vão mais devagar.

O polegar ajuda. Às vezes se inclina. O parceiro reflete e imagina. Olha pelos lados. Pelos cantos e por cima. Faz o movimento com desenvoltura. Criando nova figura. E passa sua vez.
O jogo vai ganhando dificuldade. Não importa a idade. A experiência conta mais. Os pais passam para os filhos. E os filhos, muitas vezes ensinam os pais. O lance é estar sempre pronto para sair das ciladas. Inventar outros laços. Sair dos embaraços. 

Tão lúdica essa brincadeira. A mais provocadora dos jogos e brinquedos que já tive. Mais amável que War ou Detetive. Mais complexa que dominó ou ligue-ligue. 

Eu não sabia o seu significado. Sigo compondo o aprendizado. Eu e meu parceiro atados. Nossos dramas. Nossa trama. Nossa cama. Cada qual com seus enredos e anseios. Às vezes ganhamos. Em outras, perdemos. Nem sempre achamos saída. Mas de algum jeito aprendemos. 

Esse jogo engenhoso e sedutor, com erros, acertos e ilusões, bem poderia chamar...
amor a dois!



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foto @soudessaépoca

Para saber mais sobre a brincadeira "Cama de gato"
https://www.coisasdojapao.com/2019/06/ayatori-cama-de-gato-e-brincadeira-com-barbante-tradicional/

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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

A ESCOLHA DOS IRMÃOS...


A cachorra era branca. Mas quase nunca estava assim.
Andava sempre cinzenta, da poeira que se depositava no quintal. Época que não havia pet shop e banho de cachorro era no tanque mesmo. Com água de torneira e um bom sabão. Antes de terminar, ela pulava magrela e ensopada, escapando de nossas mãos! Chacoalhava os pelos pelo quintal. E depois rolava no chão feito um cão vagabundo.
Era a nossa Sissi. Uma lulu toda branca com um olho preto. Lembro do dia que fugiu de casa. Talvez por rebeldia, para curtir a liberdade. Ou, puro instinto de maternidade que já alto latia. 
Eu e meu irmão passamos dias em desespero até que, depois de exatos sete dias, ela entrou correndo pelo quintal abanando seu rabo feliz e felpudo. Voltou! Agora, cinza chumbo. E prenha!
Depois de algum tempo, nasceram Brisa e Brasa. Um era preto com focinho branco e o outro todo branco. Bebês alegres e chorões derrubando tudo por onde passavam. Era comida, potinho, latinha e xixi por toda a casa.
Passada a euforia e no auge da nossa alegria, o poder materno decretou a sentença - Não dá para ficar com os três! Vocês terão que escolher.
A escolha é sempre dura. Vem cheia de culpa e amargura. Escolher um, é deixar o outro. É comparar amor. Jamais saber o que teria acontecido, se o outro tivesse escolhido. A escolha corrói. E dói fininho. Ainda mais, para dois irmãos pequeninos.
Naquele momento de angústia, em prantos e desespero eu falei baixinho: - Brisa! Meu irmão, esperto, disse rapidinho: - Brasa! E minha mãe retrucou meio brava: - Não é essa a escolha. Ou ficamos com os filhotes ou com a cachorra!
Sorrimos aliviados, abraçando fortemente a doce Sissi que sacudia o rabo em nossos braços. Quanto aos filhotes, doamos os dois para a vizinha ao lado. Em mágica solução. Todos os dias, a família se reunia. A mãe, os filhotes e os dois irmãos.
Crianças pequenas, encontram grandes soluções!   

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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

MAMMA MIA, CASO DE FAMÍLIA!


"América, América, lá se vive que é uma maravilha. América, vamos ao Brasil com toda a família"... Eles chegaram ao som da canção do imigrante italiano, depois da longa jornada de vinte e tantos dias num navio carregado de gente e sonhos embarcados.

Juntaram-se no bairro do Belém, numa vila pequena onde todos se conheciam e participavam com alegria da vida alheia... A nona Rosalia falava alto que saltava a veia. A Bela e o Giácomo não se importavam. Jogavam buraco, cacheta ou tranca na mesa de toalha branca e belos bordados. No prato ao lado, pedaços de queijo, vinho tinto seco e o baralho. 

O tio Bepo tinha fama de muquirana. Nunca apostou a dinheiro. Passava o dia ocupado filando algo no bar ao lado. Sempre na cozinha, a Zia fazia talharine ou penne, “Mangia che te fá bene”, e empurrava um doce da tigela pela nossa goela. Tio Dante reclamava de tudo. Se alguém dizia que sim, ele apostava que não. Sobrava palavrão em italiano e gestos com “le mani”! Caspite, Figlio di un cane. 

Ao meio dia na janela, a família parava para ver a prima Estela. Loira, alta e bela que acenava com sua mão de luva branca e seguia pelo Belenzinho, espalhando sorrisos pelo caminho. O nono se derretia. A nona reclamava. O capo maldosamente sorria.

Tudo na mesma vilinha, em casas vizinhas, mais dois cachorros, uma macaquinha, um pombal e galinhas. Eu não falava ainda. Só ouvia e mal compreendia aquela família engraçada, italo-brasileirada de coração grande que sentava as tardes na calçada e se emocionava ouvindo novelas e velhas canções. 

O retrato da grande família resta na parede. Na foto, estão calados e serenos. Seriam os mesmos? Olho cada um deles, lembro da voz e acho graça. Casei, formei nova família. Juntei outras gentes. Gerações diferentes. Agora mais tecnos, quietos e gentis.

As festas são mais comportadas. Na mesa não se joga nada. Ninguém atropela ninguém. Bebemos água e comemos saladas. A casa é mais tranquila e equilibrada. 

Evoluímos a raça? Ou... perdemos a graça?

 

 

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