Primeiro saiu a matilha. Seis cachorros assanhados correndo atrás de dois gatos ágeis e arrepiados que subiram sabiamente no telhado.
Depois, o garoto maroto chutou forte a bola para buscar de fininho lá fora. Chamou os vizinhos e formou um timinho. A irmã
pequena foi seguindo a borboleta e nem viu que cruzou o portão sem precisar da mão para abrir a maçaneta. Parou encantada no meio da calçada.
Veio a mãe desesperada atrás da garotada. Saiu pelo portão aberto e encontrou os vizinhos alegres e os filhos por perto. Aliviada, sentou para um café e uma prosa bem humorada.
O portão da casa continuava aberto e o carteiro foi entrando e dando de cara com o jardineiro. Elogiou suas rosas mostrando lá fora uma árvore de amoras. Os dois saíram para conferir.
Cruzaram o portão e colheram as frutas maduras. enquanto faziam mudas para distribuir.
Até a Tia Zulmira veio vindo com a sua bengala. Foi andado, andando, olhando as rosas e as verduras da horta que ela plantou outrora e chegou até o portão aberto que dava pra a rua. Nunca caminhou tanto sem ajuda. Voltou alegre, como se dançasse uma rumba.
Pelo portão escancarado saíram todos que lá viviam. Alguns sonhos aprisionados e desejos que por dentro escondiam.
Às cinco da tarde, voltaram todos. Até a matilha de cachorros.
O chefe da casa chegou do trabalho sem perceber o que aconteceu. Sisudo e entediado, fechou de novo com o cadeado o velho e hermético portão.
Mas agora... todos já tinham... uma cópia da chave na mão!