Nas tardes quentes e alegres no meu quintal, eu
falava com os gatos e cachorros. Às vezes, com os passarinhos que descansavam em cima do muro, observando as brincadeiras e preparando o próximo voo.
Eram
conversas simples. Mínimas. Sobre bolinhas e bichinhos. Pelos escovados e petiscos. Com os
pardais, os assuntos eram mais complexos. Nuvens, planos de voo, tetos. Ninhos. Varais. Telhados
vizinhos... Eu sentia o que eles sentiam. Alma de passarinho, sem qualquer
tradução. O poder do voo e da emoção.
Eu também falava com as estrelas. Pedia que cortassem os
céus. Na maioria das vezes, elas obedeciam. Até a lua, branca e nua, eu fazia cruzar de um
lado ao outro do meu telhado. Demorava horas. Um bocado. Mas eu conseguia.
Outras vezes, impedida de brincar, eu mandava a chuva parar. Tinha comigo um mantra poderoso e familiar. E a chuva me obedecia. Pingo a pingo, ia diminuindo. Até estancar. Eu sabia os poderes que eu tinha. Sem Hogwarts, nem varinhas. Poderes de criança. De Magia.
Entre eles, tinha o poder de curar. Com remédinhos caseiros e feitiços pequenos. Infalíveis para a minha boneca, pálida, sarar.
Outras vezes, impedida de brincar, eu mandava a chuva parar. Tinha comigo um mantra poderoso e familiar. E a chuva me obedecia. Pingo a pingo, ia diminuindo. Até estancar. Eu sabia os poderes que eu tinha. Sem Hogwarts, nem varinhas. Poderes de criança. De Magia.
Entre eles, tinha o poder de curar. Com remédinhos caseiros e feitiços pequenos. Infalíveis para a minha boneca, pálida, sarar.
E o poder de libertação. Com uma capa improvisada e uma espada na mão. Eu salvava todo um batalhão.
Mas foi na adolescência que ganhei o maior de
todos eles. O poder do amor. Bastava um olhar enamorado e eu começava flutuar com meu amor ao lado.
Veio, então, o tempo maduro.
Por vezes, duro. Com seus problemas, antenas, sirenas. E um pacote enorme de deveres.
E eu perdi
certos poderes. Da leveza. Do voo. Do encantamento. Ainda falo com gatos,
cachorros e pardais. A diferença é que eles, agora, não me compreendem mais.
E neste esvaziado pacote de poderes que
ganhei quando criança, apenas um não posso perder jamais...
o da esperança!
* * *



