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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

CERTOS PODERES...


Nas tardes quentes e alegres no meu quintal, eu falava com os gatos e cachorros. Às vezes, com os passarinhos que descansavam em cima do muro, observando as brincadeiras e preparando o próximo voo.

Eram conversas simples. Mínimas. Sobre bolinhas e bichinhos. Pelos escovados e petiscos. Com os pardais, os assuntos eram mais complexos. Nuvens, planos de voo, tetos. Ninhos. Varais. Telhados vizinhos... Eu sentia o que eles sentiam. Alma de passarinho, sem qualquer tradução. O poder do voo e da emoção. 

Eu também falava com as estrelas. Pedia que cortassem os céus. Na maioria das vezes, elas obedeciam. Até a lua, branca e nua, eu fazia cruzar de um lado ao outro do meu telhado. Demorava horas. Um bocado. Mas eu conseguia.

Outras vezes, impedida de brincar, eu mandava a chuva parar. Tinha comigo um mantra poderoso e familiar. E a chuva me obedecia. Pingo a pingo, ia diminuindo. Até estancar. Eu sabia os poderes que eu tinha. Sem Hogwarts, nem varinhas. Poderes de criança. De Magia. 

Entre eles, tinha o poder de curar. Com remédinhos caseiros e feitiços pequenos. Infalíveis para a minha boneca, pálida, sarar. 
E o poder de libertação. Com uma capa improvisada e uma espada na mão. Eu salvava todo um batalhão. 

Mas foi na adolescência que ganhei o maior de todos eles. O poder do amor. Bastava um olhar enamorado e eu começava flutuar com meu amor ao lado. 

Veio, então, o tempo maduro. Por vezes, duro. Com seus problemas, antenas, sirenas. E um pacote enorme de deveres. 

E eu perdi certos poderes. Da leveza. Do voo. Do encantamento. Ainda falo com gatos, cachorros e pardais. A diferença é que eles, agora, não me compreendem mais.  

E neste esvaziado pacote de poderes que ganhei quando criança, apenas um não posso perder jamais... 
o da esperança!                       


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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O CRAVO E A ROSA


Eles já estavam separados há muito tempo. Ele de um lado. Ela, o mais distante possível. O mais engraçado é que não se separavam. Pelo menos no papel, ainda eram casados. Bodas de ouro indo pra diamante. Mas continuavam distantes. E assim queriam ficar... 

Vivi no meio dessa separação durante quase toda infância e um bom pedaço da adolescência. Santa resistência. Numa verdadeira trincheira ouvindo cada lado reclamar... - Quem falou ? Aposto que foi teu pai! - Quem disse? Foi sua mãe, pode apostar... E assim viveram por longos anos. Em perfeita e harmônica relação. Cada um no seu canto. Casas diferentes. Sem divórcio. Só física separação. 

Até que um dia os dois, distantes, cismaram de ver a mesma novela. Coincidência intrigante. Misteriosa. O Cravo e a Rosa! Sentavam-se todas as tardes em frente à tevê. Cada qual na sua casa. Ambos já aposentados. E punham-se alegremente a ver, divertindo-se um bocado... Ele adorava a Catarina. Ela amava o Petrucchio. Ela é dura na queda, ele dizia. Ele é turrão, ela se derretia! 

Novela de época. Época dos meus pais. Geração dos anos trinta. Dos romances difíceis e muitas vezes proibidos. Virgindade, pudores e medos. Casaram-se tão cedo! Dezoito e dezenove anos. Nenhum dava o braço a torcer. Discutir relação, jamais. Perdoar? Nem pensar. Ainda mais, traição! Catarina, nunca. Petrucchio, não! Eram iguais. Ela dinamite. Ele explosão. E viviam se odiando, com muita paixão!  

Eles não perderam um só capítulo no Vale e Pena Ver de Novo das tardes quentes daquele verão. Sentavam-se, cada um na sua casa, em frente à televisão. Feito a nona e o nono. Cada um no seu canto, solitários. Relembrando a juventude e os erros do passado. Mas torciam juntos por um final feliz... 

Na novela aconteceu! O cravo ficou com a Rosa. Felizes para sempre. Mas com meus pais, foi diferente. Continuaram separados e reclamando até o fim. 
Por isso, hoje, não tenho cravos e rosas nos vasos e janelas. Tenho lírios e bromélias. Vivendo juntos e em paz. 
Nunca gostei  de novelas. Mas tenho uma saudade daquelas... Justo daquela!  



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