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terça-feira, 18 de abril de 2017

MINAS, CANÇÕES..... E CONTRADIÇÕES



 

Impossível ir a Minas sem levar na cabeça as canções do Clube da Esquina. Fui cantando na mente pela estrada de incontáveis retas e belas paisagens na janela. O gado, os campos verdes, Lô Borges, Milton, Beto Guedes. Terra, aço, trem. Ouro Branco, Ouro Preto. Ali, cheguei!

Viagem inesquecível ao passado. Ruas estreitas, bancos de igreja e suas conspirações. Cenário de inconfidência e traições. Muros de pedra e minas de ouro. Minas efervescente! Segue sua sina, mineiramente.

Minas dos poetas e amadores. Da fonte dos amores. De Marília e Dirceu. E dos santos das igrejas que criam vida todas as noites com seus cabelos de gente, nos pondo medo no meio da madrugada. Fantasmas barrocos andam impunemente pelas calçadas.

Minas contraditória. De Tiradentes e Silvério dos Reis. Minas reacionária. Das famílias pregadoras, da boa moral e da tradição. E Ouro Preto, pecadora, tão linda e anárquica. Das repúblicas de curtição. Do sobe e desce dos estudantes nas ruas, música e amores livres nos porões.

Os restaurantes finos servem arroz, feijão e torresmo. Cachaça doce. E pão de queijo, antes, durante e no final. Culinária “i” mortal! Minas da liberdade. Ou não.
Quem sabe, seja ela, mais um adulto que balança, esperando o menino lhe dar a mão...

Na janela lateral do meu quarto de dormir, o sino da Igreja tocou impunemente todo fim de tarde. A antiga Vila Rica bateu forte em meu coração barroco de amor, canções e arte.

E no corredor do Hotel, os poetas fantasmas de Tomas Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa, perambulavam fazendo rimas em ilusórios recitais, ao som de Milton e seus tons geniais.

 Ah, Minas, vou voltar!
A canção sabemos de cor, só nos resta sonhar... 


   

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quarta-feira, 5 de abril de 2017

CHORANDO NO PIANO...

 
Minha mãe já sabia. Era batata! Bastava um falar mais alto. Ou um olhar daqueles que suspendem uma só sobrancelha e pronto. Lá ia eu com meus cinco ou seis aninhos, de bico e emburrada, chorar ao lado do piano.
Era o meu refúgio aquele piano amigo e antigo que ficava no final da sala e que me abrigava de um jeito acolhedor, do lado da parede onde ninguém podia me ver. E era sempre a mesma cena. Ia chorar? Corria atrás do piano! 
Os motivos eram tantos... Dos mais sérios aos mais amenos. Uma repreensão boba qualquer. Uma nota baixa na escola. Algo que saiu errado. Ou muitas vezes, uma injustiça!  E toda vez que um bicho morria e eu não podia fazer nada para impedir.
O piano era a rota final e a nota triste do dia. Foram muitas, inúmeras as vezes que escondi minhas lágrimas naquele cantinho e devo confessar que ainda hoje, muitas vezes, sinto vontade de correr e chorar atrás do piano.
A gente cresce. Amadurece. Endurece. E os motivos parecem os mesmos. Numa escala de menor pureza, talvez. A palavra que agora fere mais fundo. A injustiça no trabalho. A decepção de um velho amigo. E a perda... Ah,  as perdas da vida madura. Vão se todos! Os bichos, os melhores amigos, os parentes chegados, os pais...  
A gente envelhece e não tem mais o velho piano, Nem para acolher. Nem pra confortar. Esconder não precisamos mais. O piano agora é só uma memória de criança de uma música triste que tocou lá atrás. A gente agora, segue de dor em dor, correndo ligeiro.            
E não temos mais tempo... e nem piano por perto, pra chorar!

*                        *            *                                                                                                               


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