Ele tinha várias manias. Comer macarrão com pão. Tomar rabo de galo aos domingos,
depois dos jogos de várzea nos campos do Ginástico e do Vera Cruz. Além de ser dono de um par de olhos... incrivelmente azuis.
Esse era meu pai, o velho Sylvio, que adorava brincar. Viveu
a vida brincando. Sabia fazer com dobras no lenço, um ratinho de pano que acionado pelo seu rápido polegar, pulava em cima das pessoas. Em geral das
crianças, que corriam de susto e depois pediam para repetir. Meu pai sorria e com seus lindos olhinhos azuis, piscava só para
mim.
O “seo” Sylvio era alegre. Divertido.
E imitava buzinas de carros antigos como ninguém. De todo o resto, sucesso profissional,
investimentos, casamento, patrimônio adquirido é melhor não
falar... Nada deu muito certo. Deixa pra lá! Para os filhos, ainda pequenos, importava mais
é que ele sabia imitar a buzina do Fordinho vinte e nove.
Apesar de nunca termos andado na sua “Baratinha”, apelido do modelo que ficou bastante conhecido no bairro do Belenzinho, em uma época que havia poucos carros nas ruas.
Já nos
anos setenta, tínhamos um Gordini. E todos os sábados meu pai levava a
família jantar no alto da Móoca. Na volta, meu pai lançava o grande
desafio. Descer do alto da Avenida Paes de Barros com o motor desligado. Na
banguela, até quanto aguentasse.
Eu,
pequena, no colo de minha mãe, ficava torcendo pra que os faróis abrissem e o
carro não tivesse que parar. Era excitante. E quando algum carro ficava na
nossa frente, meu pai pedia que eu colocasse a mão na direção e começava a
imitar a velha buzina: - arrrua! arrua! Eu adorava aquele som. Aquela aventura.
Certa vez, meu pai desviou com destreza de todos os carros à frente e mesmo quase parando, conseguimos chegar até o último farol da avenida, já quase no viaduto. Conseguimos. Que vitória sofrida!
Certa vez, meu pai desviou com destreza de todos os carros à frente e mesmo quase parando, conseguimos chegar até o último farol da avenida, já quase no viaduto. Conseguimos. Que vitória sofrida!
E eu tinha ao lado um herói. E de olhos azuis...
* * * *
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Uaaaau, inês, como sempre “dando vida” à deliciosas lembraças da infância! 👏🏻👏🏻👏🏻😘🌹
ResponderExcluirTão lindo..
ResponderExcluirTão poético..
Q delícia o.passeio com Seu Sylvio.. sempre alegre com seus olhinhos azuis e brilhantes.
Dá saudades, mesmo sem estar junto da família nessa época.rs
Que bacana, o que fica na memória é simples, simplesmente o que valeu
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