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quarta-feira, 29 de julho de 2020

TESOURO? ...QUE TESOURO?

A casa da tia Zilda era um museu. Poltronas de veludo desbotado, com o entorno barroco, dourado. Um aparador que ela chamava de Itajér. Em cima dele, duas garrafas de vidro bico de jaca. Um com menta. Outro com Anis. Sabores infantis. 

Às vezes, ela me deixava colocar o dedo indicador e degustar o licor. Havia também um tapete de pele de carneiro vermelho. Vasos de murano, italianos. Muitos quadros e enfeites antigos. O objeto que eu mais gostava era um cofrinho batizado por ela de “barrigudinho”. Feito de coco com uma fechadura de aço no umbigo. Eu adorava aquilo. A Tia Zilda abria o barrigudinho e eu libertava todas as moedinhas, sem me importar se valiam muita ou pouca coisa. 

Outro objeto que despertava minha atenção era um Quixote, de ferro! Ficava sobre a mesa. Inspirador. Embora eu estivesse longe de compreender Cervantes. E assim seguia a viagem fantástica, descobrindo os ricos tesouros da casa da Tia Zilda. Em cada canto, um objeto curioso... 

No final da visita, o sorvete de mamão que ela trazia numa forminha de plástico com um palito no meio. Eu devorava inteiro. E antes de ir embora, corria para o quarto antigo para ver de perto o cofre de ferro que ficava lá meio escondido. Ninguém, nunca, havia comentado nada comigo. O que teria lá dentro? Mapas? Enigmas? Poções de bruxas e feiticeiros?   

Estremeci de medo, quando tia Zilda me disse ao pé do ouvido os números secretos pedindo que eu guardasse segredo. Dois dois, cinco dois! Giramos os botões. Para um lado e pro outro. Pronto! A porta destravou e se abriu com o leve toque da minha mão.

Pura decepção! Para uma criança em busca de magia, lendas de aventuras e feiticeiros... O sonho ficou desfeito. O cofre, sem graça, só tinha... dinheiro!


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terça-feira, 28 de julho de 2020

A BUZINA DA BARATINHA



Ele tinha várias manias. Comer macarrão com pão. Tomar rabo de galo aos domingos, depois dos jogos de várzea nos campos do Ginástico e do Vera Cruz. Além de ser dono de um par de olhos... incrivelmente azuis.
Esse era meu pai, o velho Sylvio, que adorava brincar. Viveu a vida brincando. Sabia fazer com dobras no lenço, um ratinho de pano que acionado pelo seu rápido polegar, pulava em cima das pessoas. Em geral das crianças, que corriam de susto e depois  pediam para repetir. Meu pai sorria e com seus lindos olhinhos azuis, piscava só para mim...  
O “seo” Sylvio era alegre. Divertido. E imitava buzinas de carros antigos como ninguém. De todo o resto, sucesso profissional, investimentos, casamento, patrimônio adquirido é melhor não falar... Nada deu muito certo. Deixa pra lá! Para os filhos, ainda pequenos, importava mais é que ele sabia imitar a buzina do Fordinho vinte e nove...
Apesar de nunca termos andado na sua “Baratinha”, apelido do modelo que ficou bastante conhecido no bairro do Belenzinho, em uma época que havia poucos carros nas ruas.
Já nos anos setenta, tínhamos um Gordini. E todos os sábados meu pai levava a família jantar no alto da Móoca. Na volta, meu pai lançava o grande desafio. Descer do alto da Avenida Paes de Barros com o motor desligado. Na banguela, até quanto aguentasse...  
Eu, pequena, no colo de minha mãe, ficava torcendo pra que os faróis abrissem e o carro não tivesse que parar. Era excitante. E quando algum carro ficava na nossa frente, meu pai pedia que eu colocasse a mão na direção e começava a imitar a velha buzina: - arrrua! arrua! Eu adorava aquele som. Aquela aventura.

Certa vez, meu pai desviou com destreza de todos os carros à frente e mesmo quase parando, conseguimos chegar até o último farol da avenida, já quase no viaduto. Conseguimos. Que vitória sofrida!
E eu tinha ao lado um herói. E de olhos azuis...

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quarta-feira, 22 de julho de 2020

AMOR MAIS ANTIGO...


O rosa de cano alto é o meu preferido. Ganhei há três anos. A vedete do armário. Uso só em ocasiões especiais. Locais onde posso pisar sem sujar. Não quero gastar. Muito menos lavar. Só que desta vez, o frio me pegou dentro de casa. Fui até o velho armário dos calçados em busca de um tênis mais maleável. Amaciado. Velho, porém confortável. Estavam todos entocados. Cheirando a guardado...

Logo de cara, havia um amarelo de brim, bem bonito, com detalhes coloridos, que me deu calafrios... Cortava a pele até fazê-la sangrar. Eu tinha que parar por um tempo para, depois, recomeçar a andar. Dois pra lá, dois pra cá. No ritmo torturante, do band-aid no calcanhar! Nem pensei naquele tênis colocar. Achei um outro, de couro branco, para quadras de saibro. Tênis pra tênis. Bonito e apropriado. Com a sola entronizada de poeira amarronzada. Não jogo mais tênis há tempos. Ficou lá, perdido, junto com as últimas temporadas...

Depois dele, um outro branco, parecido. Para passear. Com a base bem alta para combinar com o meu alto marido. Mas, chique demais para ficar em casa, escondido. Então, me deparei com ele! O cinza cano baixo. Muito usado. Castigado. Cadarço acinzentado. Confortável e perfeito para uma tarde chuvosa, com agasalho nas costas, café quentinho e um bom livro de prosa. Da mesma marca que o rosa, só que bem mais idoso...

Já viajou comigo por incríveis lugares. Montanhas e vales de Campos do Jordão. Foi pra Minas, Monte Sião. Visitou Gramado, no Sul. E foi até pra New Orleans, ouvindo blues... É antigo como eu. Não pensei duas vezes... Peguei a meia de lã e resolvi calçar o velho tênis. Quando da sua boca cano baixo, o ouvi cantarolando baixinho... 
“mas ainda sirvo e se você quiser... eu aqueço o frio dos seus pés...”



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quarta-feira, 8 de julho de 2020

OS CASACOS DO ARMÁRIO

Bastam os primeiros ventos gelados se esgueirarem pelas esquinas, minha alma arrepia e eu corro para abrir a parte alta do armário. O compartimento meio escondido onde moram os casacos antigos.
Reconheço alguns de invernos passados... A jaqueta rosa que nunca usei. Aperta um pouco. Mas é tão linda! O Blazer xadrez que ganhei da Tia Lucinda. Só uso em reuniões formais. É sério demais. E outro laranja, que custou caríssimo. Uso pouquíssimo. Nem sei se valeu...
São tantos os casacos. O preto não é tão bonito, mas vai bem com qualquer coisa. Uso quase infinito. Está até puído. Moído. Talvez o coloque hoje. Está decidido! Tão bom não ter muito que pensar...
As malhas também estão guardadas no armário. Olho todo ano para elas. Quando irei usar a amarela? Ousada e decotada. E o cardigan que comprei há três anos atrás? Usei numa tarde cinzenta. Repleta de problemas. Depois nunca mais. Lembrança triste me traz...  
Todo inverno é a mesma coisa. Os mesmos pensamentos sobre os mesmos casacos. Alguns, passo batido. Nem lembro quanto tempo tem. Alguns, nunca usarei. No final das contas, vou vestir dois ou três.
E assim, eles ficam lá. Os mais clássicos, os ultrapassados, os mais descolados... Mostrando o tanto que não reinventei. Tantas combinações possíveis e diferentes. Que não tentei. Estão lá os casacos, parados e abraçados. Esperando uma ocasião que não vem. O por quê, eu nem sei. Guardei. Deixei. E todo ano é igual. Tiro alguns deles no outono pra tomar um ar fresco no varal e depois volto tudo para o lugar.

Este ano prometo mudar! Escancarar o armário. Jogar fora as traças. Doar pares incontáveis de sapatos. E deixar apenas o que for vestir.

Os casacos... e os sonhos. Que ainda couberem em mim.                 
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quarta-feira, 1 de julho de 2020

OS CINCO BOLOS DA ZEZÉ...



Zezé estava com nossa família há mais de quinze anos. Ajudou a cuidar dos meus sobrinhos. Depois, cuidou de mim, da minha desordem e da minha casa. Época em que eu mais precisava, trabalhando em três empregos. Rádio, dublagem, roteiros... Eu chegava em casa e Zezé surpreendia... Fiz um pudim de pera. Tá na geladeira! Zezé, tinha pera? Dei um pulinho na feira...

Zezé fazia ótimos pratos triviais e tortas salgadas. Aquelas que ficam grossas nas bordas e ligeiramente entortadas. Mas por dentro, o recheio enchia os olhos e nossa boca de água. Zezé era danada!

Uma coisa só destoou durante este tempo em que convivemos. Os bolos de cenoura! Eles nunca deram certo. Primeiro, ela tentou fazer surpresa. Deixou o bolo pronto sobre a mesa, com um bilhete ao lado... Ficou baixinho, mas deve estar gostoso. Que nada! Estava duro e solado. No dia seguinte, rimos e jogamos fora o bolo. Caso abafado.

Na semana seguinte ela tentou de novo, dizendo que foi culpa do ovo. Que estava muito gelado. Fez o segundo! Agora murcho e retraído. Como podia? Zezé acertava tudo em confeitaria? Já se sentia rebaixada na categoria. Mas que besteira, Zezé, você é ótima cozinheira. É só o bolo de cenoura, eu dizia...

E o bolo encasquetava sua cabeça. Bastavam sobrar duas cenouras e ela novamente se metia a besta. Cheguei a ver uns pedaços do bolo encruado jogados no lixinho ao lado. Ela não comentou o fato.

Na semana seguinte tentou de novo. Agora já eram quatro! Eu já evitava comprar cenoura, porque quando tinha, ela insistia. A culpa agora era do óleo. Vou por manteiga. Não, Zezé, deixa! E Zezé não parava... Até que mesmo com manteiga, leite morno, fermento novo e uma forte novena, ela estragou o quinto bolo. Então determinei... Chega, Zezé. Chega! Esse bolo não é pra você! 

Só mais um, por favor. Mais unzinho só, Dona Inês... Tá bom, Zezé, faz vai. E lá se foram, perdidos... seis!



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