A casa da tia Zilda era um museu. Poltronas de
veludo desbotado, com o entorno barroco, dourado. Um aparador que ela chamava
de Itajér. Em cima dele, duas garrafas de vidro bico de jaca. Um com menta. Outro
com Anis. Sabores infantis.
Às vezes, ela me deixava colocar o dedo indicador e
degustar o licor. Havia também um tapete de pele de carneiro vermelho. Vasos de
murano, italianos. Muitos quadros e enfeites antigos. O objeto que eu mais
gostava era um cofrinho batizado por ela de “barrigudinho”. Feito de coco com
uma fechadura de aço no umbigo. Eu adorava aquilo. A Tia Zilda abria o
barrigudinho e eu libertava todas as moedinhas, sem me importar se valiam muita
ou pouca coisa.
Outro objeto que despertava minha atenção era um Quixote,
de ferro! Ficava sobre a mesa. Inspirador. Embora eu estivesse longe de
compreender Cervantes. E assim seguia a viagem fantástica, descobrindo os ricos
tesouros da casa da Tia Zilda. Em cada canto, um objeto curioso...
No final da
visita, o sorvete de mamão que ela trazia numa forminha de plástico com um
palito no meio. Eu devorava inteiro. E antes de ir embora, corria para o
quarto antigo para ver de perto o cofre de ferro que ficava lá meio escondido. Ninguém, nunca, havia comentado nada comigo.
O que teria lá dentro? Mapas? Enigmas? Poções
de bruxas e feiticeiros?
Estremeci de medo, quando tia Zilda me disse ao pé
do ouvido os números secretos pedindo que eu guardasse segredo. Dois dois,
cinco dois! Giramos os botões. Para um lado e pro outro. Pronto! A porta destravou
e se abriu com o leve toque da minha mão.
Pura decepção! Para uma criança em busca de magia, lendas de aventuras e feiticeiros... O sonho ficou desfeito. O cofre, sem graça, só tinha... dinheiro!
* * *
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Tão gostoso de se ler imaginando as personagens principais, lembrando dos sofás desbotados, dos bombons sonho de valsa eternamente guardados numa baleira de vidro sobre o aparador.
ResponderExcluirQ.saudades q dá.