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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A MARRA... E A BENGALA!

Não vai sozinho até o orquidário. Cuidado com a quina do armário. Não esquece o agasalho. As palavras entravam por um ouvido e saiam pelo outro de fininho.

Bastava eu passar pela porta, lá ia o seo Sylvio do jeito que bem entendesse, caminhando lento, errando os endereços, atravessando ruas e avenidas perigosas e tirando fininha das carros. Ninguém lhe botava freio, muito menos agasalho. 

Levava incontáveis tombos, mas não quebrava muita coisa. Os anjos já o conheciam e o protegiam, numa espécie de acordo.  Havia sempre um roxinho nas mãos e no ombro. Arranhava a testa e os joelhos. Pra diminuir nosso receio e cuidar da sua velha rebeldia, pagamos a Dona Luzia que cozinhava e lembrava dos seus dezessete remédios por dia. Para o estômago, coração, pressão, disfagia...

Na última vez, meu pai caiu no meio da calçada. Meu irmão encontrou, então a solução. Comprou uma bengala! Daquelas feias, de quatro garras curvadas. Deixei na entrada da casa e olhei de esguio o semblante de meu pai com panca de desprezo e cheio de indignação. - Foi presente do meu irmão! Fui embora, sem dar maior explicação.

A semana passou e seo Sylvio me chamou para uma conversa séria. Senta aqui e presta atenção. Liga pro seu irmão e diz que eu não preciso dessa bengala de garra. Tira ela da sala! Eu nunca vou usar essa... lambisgaia!

Terminou o seu discurso de marra com a questão definitiva na ponta da língua... - quem é que manda em mim, ainda?

Sorri, dando lhe um beijo de mãe e filha em sua testa ferida, marcada pelas rugas, recentes machucados e sinais dos anos de vida. E devolvendo o mínimo da sua autoridade, falei com desprendimento e amor... - quem manda é o senhor!

Fui embora, pedindo aos anjos que reforçassem a proteção.

 

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