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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

DEITADINHA...

                                                             
Eu procurava o único pedacinho de sol da manhã e deitava no azulejo quentinho do meu quintal. A casa era fria nos dias de inverno e a luz artificial não aquecia. Eu recarregava a minha bateria naquele cantinho nos ensolarados dias.

O colégio tinha um pátio grande e uma palmeira imponente no meio. Eu corria para ela no recreio. Lanche na mão e a alegria de sentar ao sol no quadrado de terra descoberto olhando o céu aberto. O sol a pino. Eu sem teto.

Os anos adultos e duros vieram. O tom pálido diário do trabalho. Dias de escritório. Os pais mais velhos recolhidos em seus apartamentos de escuras cortinas. Junto deles, minha rotina cuidadora de filha. Nas pausas eu corria até a praia e deitava na areia. Esteira em frente ao mar para ver o por do sol e minha alma úmida secar. Alguns minutos bastavam para o amor de novo me ensolarar.

Os colibris saem de manhã com um mínimo de energia. Precisam achar rapidamente comida para ganhar simplesmente a vida. Batem asas num movimento absurdo, oitenta vezes por segundo. De flor em flor vertendo a energia para sobreviver a cada dia. Vivem no limite.

Um mini-colibri minúsculo é o único que descansa profundo. Tão pequenino, ele se deita numa folha e hiberna por poucos segundos. Depois volta ao mundo.

Olhei ele na foto deitadinho. E me vi na folha, num dia frio...  naquele meu quintal quentinho.       

 

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foto: Revista Pazes/Raul Simgh

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