Ela ensaiou horas diante do espelho. Decorou frases de efeito tiradas de um livro de autoajuda perfeito. Buscou as palavras mais duras. Um misto de amor e amargura. Uma conversa sem freios e rodeios. Flechas certeiras no coração do ex companheiro.
Planejou um choro discreto. Muito equilíbrio e um resto de afeto. Discurso perfeito para um encontro casual. No saguão do restaurante habitual ou no caminho do toillete. Imaginou-se de vestido leve, salto alto e olhar sexy... Ele com ar cansado, saindo do trabalho e expressão de arrependimento.
Finalmente diria o que tinha guardado por anos. A dor da traição. A solidão, o desabar dos seus sonhos. O quanto foi cruel seu parceiro, desprezível e desumano. Nem os cinco dias, dois meses e seis anos, tinham conseguido apagar...
Não foi assim que se deu. Naquele sábado tumultuado ela entrou no mercado do Nereu. Bermuda velha, chinelo velho e cabelo que ela mesma prendeu. Ele estacionou em frente com sua Mercedes reluzente. De terno elegante, ar de contente e um par de óculos
escuros. Os dois se cruzavam, agora mais maduros...
- Beatriz?
- Joa...quim!
- Parece nervosa!
- Bobagem... Estou bem. Bem feliz.
- Ótimo, estou com pressa! E partiu dando um beijo frio em sua testa...
Beatriz engoliu todas as palavras pensadas, por mais seis anos, dois meses e incontáveis dias.
A vida é sem ensaio, Bia. É à revelia...
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ExcluirAo vivo é que a adrenalina manda. Sempre gostei do Ao Vivo. Mesmo que não saia como a gente espera.
ResponderExcluirQuase nunca sai... rs
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