Ela era falante. De óculos e simpática. Mais muito falante. Vai nota
paulista? CPF na nota? Pode ser... Comecei a passar minhas compras na caixa
do supermercado quase vazio, sem muita pressa. Nenhum tipo de stress. Uma comprinha pequena, apenas.
O primeiro pacote
foi o de tomates... Nossa, que caro! Ela reagiu arregalando o olho! Quase dez reais! Eu não levo não. Compro molho pronto. Ou faço um ovo. O pessoal lá em casa come o que está mais barato. Pois é, de fato, continuei passando as compras achando a conversa engraçada...
Banana. Pimentão. Alcaparras. E um quilo de camarão.
Foi quando ela se
indignou... Você come isso aqui? Sim! Adoro camarão. Não sabe que ele come defunto?
Nessa altura, me veio a mente não apenas os peixes mortos e já apodrecidos do
fundo do mar, mas pessoas e animais maiores em decomposição. Uma espécie de rio Ganges com seus mórbidos rituais. Dei um sorriso amarelo dizendo que em parte ela estava certa, mas que iria levar do mesmo jeito os bichinhos nojentos e que
limparia bem suas entranhas.
Na sequência, passei cinco litros de água mineral, certa de que ela não daria nenhum parecer. Que nada... Você sabia que fizeram uma
análise e que as águas engarrafadas estão contaminadas? Cheia de
bactérias? E a da torneira, nem se fala....
Nessa hora, já impaciente,
comecei a acelerar as compras, quase desistindo de tudo e com certa irritação,
aceitando que talvez, no fundo ela tivesse um pouco de razão. Perguntei... Você então não bebe água? O que faz quando tem sede? Ela colocou a mão na boca
como quem revelasse um grande segredo e disse radiante... faz cinco anos que não bebo água. Quando estou com muita sede, tomo um refrigerante!
Saí de lá confusa, porém aliviada. Às vezes, os malucos quase vencem e nos convencem!
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