Sozinha na praia. Branca e emplumada, ela caminhava fitando o céu e o mar enevoados. Deve ter escapado do bando e veio dar umas bandas pelo chão. Pisava delicada nas areias fininhas e em algumas migalhas de conchinhas. Ia devagar, mansinha. Marchando em contemplação.
Eu era aquela ave solitária na praia. Mirando a imagem de silêncio e beleza. Seguia com ela mar afora e sozinha. Retilínea. Pernas em marcha, esticadinhas. Água e sal entre os dedos, sentindo nosso prazer egoista em segredo.
Seria uma garça, gaivota,
albatroz ou pelicano? Às vezes me engano com as aves que voam sobre o
oceano. Era um ser alado somente,
na solitude da contemplação, sem maior classificação. Batizei-a Maria. A ave Maria. O divino ali cabia.
Naquele momento sem gente, o vento guiava minha mente por mares distantes e verdes. Eu velejava sem velas, na suave atmosfera. Um balanço manso da alma em terra. A ave não me via. Eu me via nela.
O sol ardente de repente apareceu. A ave solitária abriu suas asas, agora aquecidas, mergulhou no mar e num ímpeto rápido emergiu. O seu arrepio espantado de penas me
sacudiu.
Cheguei mais perto sem ela perceber. Tinha ar de contente. Vi um bico sorridente. O breve momento foi suficiente. Desmontou a cena. Voltamos a ver gente, gente e mais gente.
Ela voou. Eu voei também.
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