Era um homem magro. Um metro
e noventa. Olhos fundos. A pele enrugada e castigada de sol. Dizia poucas
palavras... Sim, seora. Resorvo isso, agora! Fumava e andava com um facão
afiado na cintura. Cortando lenha, mato ou o que aparecesse de ruim pela
frente. Dizem que assim, tinha dado fim a um traidor em Goiás, um tempo atrás. Eu tinha muito medo do seo Abel...
De tarde era tranquilo passear. O sítio tinha três saídas. De um lado, o grotão. Com um olho d’água e
árvores gigantes que fechavam a paisagem e davam ar de mata sombria. Havia
uma ponte de eucalipto para atravessar. Mas eu não me atrevia. Eu tinha medo de
encontrar o Seo Abel...
Do outro lado, um caminho suave que
cruzava a horta e ia dar no lago. Lindo e raso. E, por fim, a saída principal passando pela casa do seo Abel. Onde tinha um poste de madeira e uma fumaça que
saía branca feito um fantasma da pequena chaminé...
Na noite fria de lua cheia eu quis
ouvir o som do silêncio e me encher de brilho e poesia. Sai caminhando pela
horta vazia, passando pelo milharal. Olhei para um lado. Para o outro. E de repente dei dois passos para trás. Esbarrei num ser bem grande. Com gravata, calça xadrez e
mangas largas. E parecia querer me abraçar.
Ligeira e tremendo de medo, sai
correndo pegando o primeiro atalho. Sem perceber sua cara mal feita de abóbora e
os cabelos de milho debulhado, do qual era feito o pobre e velho espantalho!
Mais a frente enchi o peito e sem qualquer preconceito gritei
no meio da mata escura... seo Abel, socorro! Seo Abel, me ajuda!
E o rude caseiro de facão na cintura
que me metia tanto medo surgiu feito um coiote ligeiro e se
embrenhou na mata, me resgatando intacta,
Ah, as aparências, como enganam...
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