Sempre tive medo de leões. O olhar de poucos amigos. O rugido assustador. A mordida fatal. Mas não deste leão. O leão da praia. Leão de cimento. Estátua tão amiga quanto antiga. Reinando no meio do jardim...
Impávido e sereno, o leão da praia está lá há mais de setenta anos. Assistindo a chuva, a ressaca, os fortes ventos. A noite nublada, a madrugada estrelada e os primeiros raios da manhã...
Mas é no destino de estátua, pesada e dura, que sinto toda a ternura. Fico imaginando o brilho no olhar de cada uma das crianças. Milhares delas, ao longo de tantos anos, com sorrisos iluminados, erguidas pelos pais para o grande momento: montar o rei das selvas e com as mãozinhas pequeninas afagar a grande juba de cimento!
A alegria perpetuada nas fotos dos filhos, que já se tornaram pais, e já levaram seus netos e bisnetos e tantos mais... O leão da praia mora na lembrança de todos nós, crianças, de todas as gerações.
Mas foi numa dessas noites de luar, feitas para poeta se apaixonar, que vi, ali, em frente ao leão da praia, um louco solitário, insistente e comovente a cantarolar... -Gosto muito de te ver, leãozinho! De tocar sua juba...
Talvez ninguém tenha percebido o seu canto e todo o seu desatino. Mas o Leão, ciente da sua função, escutava calado, aquele louco desvairado que só queria encontrar alguém no caminho...
E eu, que já desconfiava destas estátuas antigas, agora tenho certeza. Elas escutam os loucos. As crianças. E as cantigas!
* * * * *
Adorei.. Cheio de poesia
ResponderExcluirUau, lindo e suave!
ResponderExcluirSaudade boa. Ainda bem que ainda da pra matar essa saudade. Ninguém teve ideia de tira-lo de lá. Justiça seja feita: a companheira dele, a leoa da praia, também está lá e era o complemento para as fotos. Belo casal de cimento sentimental.
ResponderExcluirSaudade boa. Ainda bem que ainda da pra matar essa saudade. Ninguém teve ideia de tira-lo de lá. Justiça seja feita: a companheira dele, a leoa da praia, também está lá e era o complemento para as fotos. Belo casal de cimento sentimental.
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