Estavam espalhadas na areia. Eu, na infância, chamava de
estrela. Estrela do mar. Alguém disse que caiam do céu. Nunca acreditei. Não
cheguei a perder o senso, sabia que vinham do oceano imenso.
As vivas e com cílios em movimento eu devolvia para a água imaginando que pudessem se salvar. As quebradas e já sem vida eu partia ao meio para ver a estrelinha pequenina. Eu não levava pra casa, nem fazia coleção. Eram do mar. Por alguma razão, apareciam no final do verão.
Nome esquisito dessa espécie de serzinho. Equinodermo! Uma face tão doce não precisava desse nome. Cara redonda moldada feito argila e na parte de cima uma geometria bonita, desenhando uma flor. Em baixo, pés ciliados lhe dão movimento para todos os lados. Frágeis e inofensivas vivem e se alimentam no fundo mar. Não têm veneno. Nem espinho tem. Não causam mal a ninguém. As marés fortes as sacodem e as trazem junto com a areia pra fora do seu lugar. Dezenas surgem na beira. Eu dizia que eram estrelas...
Contava uma a uma como se estivessem no céu. Para a maior delas, fazia um pedido especial. Segredo confidencial.
Anos mais tarde, alguém me disse no entanto: "certo perdeste o senso". Não são elas as estrelas. Está na cara, basta olhar, estas são bolachas do mar.
Sorri. Achando graça. Perdi a poesia. Achei as bolachas!
Ref. Olavo Bilac.
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