Um caipira, desses que falam pitando e olhando pro céu, parecia não entender nadica de nada. Parecia.
Foi ele que me ensinou com um balde velho e uma prosa ribeirinha, o ritmo certo de ordenhar a vaquinha. Mostrou como se pega com laço o novilho. Como se colhe a espiga de milho. Além de ser bom de faca! Com ele ninguém mangava. Nem mesmo a vaca.
Era magro e liso feito saruê quando se embrenhava no mato. Tratava com Neguvon, cavalo com berne e carrapato. Não gostava de pombos. Fazia fumaça pra espantar marimbondo. Dava nome pras galinhas... E pra qualquer dorzinha, tinha sempre uma santa plantinha!
Comprou um cavalo branco. Já velho. Era ligeiro e bom corredor em tempos passados, mas agora parecia lerdo e cansado. Também um pouco magro. O caipira lhe dava consolo batendo em seu lombo com a palma da mão... "A velhice é marvada. Porque o tempo, o tempo escangaia”. O caipira dizia isso com ar de carinho como se dissesse a si mesmo, percebendo ao longo do caminho, a dureza da lida, o desgaste da vida, o andar trupicante e o seu corpo já franzino.
Guardei pra mim os ensinamentos do caipira e a imagem do cavalo branco meia vida. Olhei no espelho, conferi as minhas ruguinhas já crescidas. O olhar cansado e sonolento. A coluna torta com uma artrose no joelho. Lembrei do caipira e seu velho amigo de pelos. O tempo escangalha mesmo.
Passado uns meses encontrei os dois companheiros passeando na estrada de terra. Um ao lado do outro. O cavalo ia devagar e mais trôpego. Cumprimentei o caipira que estava brabo que só.
- Imagina que o cumpadi queria comprá o meu cavalo. Eu disse que num era baio e que andava devagá. O ômi insistiu. Dizia que ainda servia pra muito saco de mio carregá! Queria pagá cem conto e fazê o coitado trabaiá!!
O que você disse pro moço? - Nada não. Só mostrei facão. O bicho não é baio, mas é bão. E pode trupicá que eu não ligo.
Quem crê em Deus, nunca que vende um amigo!
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Sábio esse caipira!
ResponderExcluirA vida é faculdade... Obrigada, José Roberto, pela companhia no blog!
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