Há tempos sonho com a festa. Na lista, especiais convidados.
Gente que admiro e me identifico. Alguns já mortos, outros vivos. No sonho sempre
é possível. Pobres e ricos. Famosos com quem jamais conversei. Amigos e parentes,
alguns que já partiram. Outros que simplesmente cismei. Todos reunidos na sala
da minha casa.
Os grupos eram mais ou menos organizados, para
ninguém se sentir deslocado. Escritores, músicos, esportistas, gente comum do
presente e do passado. Ninguém preocupado.
Num canto, um papo bom rolava entre Manoel de Barros
e os caseiros do meu irmão, o Alex e a Eva. Fiquei um tempo com eles falando do
sítio, das cigarras e das bromélias. Manoel pediu um vinho e um abridor de
madrugadas para iniciar sua garrafa. Eva contava das plantas e dos bichos que
cuidava. Manoel anotava as frases novas que criava.
No outro canto, ouvia-se rock. Bob Dylan e Cris Kristoferson contavam os bastidores de Woodstock. Em meia hora ouvi maravilhas, a inspiração das obras primas entre histórias estranhas e indigestas. Sorte à beça. Não convidei jornalistas, nem polícia pra festa.
Sentadinho no chão, como numa conhecida foto, o mestre Drummond. Ele pegou uma almofada, desarrumou um pouco a minha casa, olhou os livros gastos na cabeceira, louças usadas na cristaleira e se sentiu mais à vontade na minha sala de verdade. Fiquei meia hora em silêncio, no chão ao seu lado. Havia um imenso recado naquela simplicidade.
Clarice Lispector e Luis Fernando Veríssimo sentaram
no sofá- divã, lado a lado. Tomavam um drink forte e nada falavam. Apreciavam aquela
solidão. Pra não aborrecer, dei um oi de longe só com a mão.
Alguns convidados não vieram. Gil e Caetano ficaram
na Bahia. Milton ficou em Minas. João Gilberto deu o cano. Seu Jorge batucava
com Elis Regina. Beto Guedes e Lô Borges chegaram depois, ficaram de papo num
clube da esquina.
Perto do piano, meus irmãos e Paul McCartney, que
muito falante, dedilhava no teclado. Lennon, Ringo e George não convidei. Iriam
ficar conversando entre si. Eu queria o Paul só para mim.
A festa esquentava. A princesinha do skate no corrimão
da sala deslizava. Rebeca Gusmão pra lá e pra cá saltava, enquanto Kurten e Federer viam na tevê uma final de tênis
australiana. Não bebiam nada. Ofereci... Um Gatorade? Uma banana? Continuaram
focados nos erros não forçados.
Vinicius e Toquinho tomavam uísque na cozinha. Passei
por eles várias vezes para ouvir músicas e poesias... Miucha sorria.
Os dois argentinos convidados, Messi e o Papa se
divertiam conversando no corredor da casa. Pouco se entendia ou quase nada, mas
a conversa era animada.
A festa não duraria muito tempo. O meu vizinho do
lado é um chato sujeito. Antes da reunião terminar, James Taylor foi escolhido
por todos para cantar.
Minha mãe apareceu servindo café quentinho de
saideira. Sean Connery preferiu chá. Ela
foi buscar.
E por fim, São Francisco de Assis, o primeiro dos
meus queridos convidados entrou pelo terraço, junto com os bichos, a Melody, a
Priscila, a vira lata Sissi, a gata Felina e muitos outros animais encantados
que bagunçaram tudo, pulando no colo de todos os convidados.
Eu acordei.
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