O bairro paulistano do Brás era uma grande colônia italiana. Festas ao som da tarantela. O som grudava em nossos ouvidos feito a bela polenta nas bocas e panelas. Um comércio alegre, recheado de cantinas com pães, salames e muçarelas. Os espanhóis também estavam por lá espalhados. Manolo, o açougueiro, era um deles, com seu sotaque basco embaralhado.
Mais tarde, o bairro foi virando centro comercial. Árabes, turcos e libaneses abriram lojinhas de móveis e tecidos. Deixaram de ser amigos. Grandes redes invadiram. Ducal, Garbo, Pirani, Eletroradiobrás... Pra completar a mistura, investiram num exótico marketing de rua.
Cada loja do bairro tinha seu destaque. A Pirani, palhaços. A Eletro, um homem com pernas de paus. E a Suissa, um trio de nordestinos forrozeiros onde Dominguinhos, ainda jovem chegou a tocar. Era uma sanfona, um triângulo e uma zabumba reunindo curiosos e festeiros no lugar.
Minha vizinha, viúva, era de pouquíssimas palavras. Um sotaque que lembrava os países da cortina de ferro. Ela própria era de ferro. Dona de mistérios.
Numa sexta feira cinzenta, às seis da tarde o comércio fechou. Ouvi, saindo do meu elevador, o som do trio forrozeiro zabumbando alto no meu andar. A campainha de casa tocou. Abrimos a porta, minha mãe e eu, sem entender aonde era o show.
A porta ao lado foi se abrindo de mansinho num ato meticuloso e envergonhado e vimos pela fresta a viúva e seu namorado convidando para entrar o alegre trio contratado.
Os forrozeiros se equivocaram. Era no apartamento ao lado a danada da festa! Forró com vodca e seresta. A viúva de ferro, calada e sombria, também sorria, dançava... E sobrevivia!
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