Ela me ensinou a tirar cada folhinha daquela flor
escura esquisita e cravar os dentes para tirar o recheio. Molho salgado com um
pouquinho de queijo. As alcachofras da
tia Nadir ainda continuam como antes, fumegantes, na minha memória e o sal das
alcaparras aguça a ponta da língua, criando uma saudosa caudalosa saliva.
Dona de um colo macio, peitos redondos e fartos, ela
me erguia e colocava em cima da mesa para ver de perto as alcachofras desabrochadas
no prato. Chamava de “Carciofi”, um jeito meio italianado. Eu olhava curiosa o preparo. Forno grande. Panelas de alumínio areadas. Tomates vermelhos
duros e bem cortados e as alcaparras salgadas que ela provava, espremendo seus
olhos de tamanha azedura. Punha tudo em fervura.
Foi no recém inaugurado shopping que encontrei pela última
vez com a tia Nadir. Lembramos das alcachofras generosas que ela fazia nos
tempos da minha infância... -Eu ainda faço, igualzinha! Vou fazer e chamo você,
qualquer dia.
Anos depois, encontrei no mesmo lugar a sua filha, a prima Eloá, nome inspirado na esposa do velho Presidente Jânio Quadros. Foi um encontro repetido e intuitivamente estranho. Comentei das alcachofras e da saudade que eu sentia da minha tia, já que seu grande coração não aguentou muito tempo e ela se foi, levando junto com ela sua risada, seus enormes peitos, suas receitas e segredos.
Eloá lembrou do molho, do queijo, das alcaparras e ainda me falou do preparo da coroa, o coração da alcachofra que eu nem sabia que existia. As folhinhas dentadas já me davam sabor e alegria.
A minha é igualzinha. Qualquer dia eu faço e chamo você. Qualquer dia.
Prima Eloá também se foi. Igualzinho sua mãe, o seu coração também não aguentou. Agora as duas devem cozinhar juntinhas. E um dia vão
me fazer alcachofras à quatro mãos.
Promessa é divida. Aonde quer que seja. As alcachofras vão reunir a família, desabrochando numa grande ceia. Qualquer dia.
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VEM AÍ... VEM QUE TREM POESIA.
AGUARDE!
TUDO NUM SÓ LUGAR...
AGUARDE!
Linda! Adoro alcachofras e as como num dia qualquer, na época delas e sinto prazer em doá-las à minha mãe, que as recebeu de um dos meus pais.
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