Em casa tinha pato, coelho, tartaruga, cachorro, pintinhos... E uma
coruja que iluminava as noites com seus olhos grandes e acesos tocando medo na vizinhança. Era uma boa coruja. Bem agourada. O mundo
animal coexistia em liberdade dando alegria à
nossa infância.
Os bichos soltos, vira e mexe apareciam em espaços alheios. O coelho corria atrás do pato. O papagaio denunciava o fato. E a cachorra, sempre bondosa, com os pintinhos em cima da barriga rósea. Sissi era dócil. Amiga. Peluda. Mas o que surpreendia era o seu ódio pela tartaruga!
À noite dormiam no mesmo espaço. A cascuda era dureza. Em câmera lenta e sorrateira, mordia a cachorra na pata traseira. Sissi não latia. Segurava a agonia e preparava o revide. Colocava o focinho e virava a tartaruga de casco pra baixo. Com as patas para o ar! Até que alguém fosse desvirar.
Até tomate cru a Sissi comia para tirar da inimiga íntima o motivo da sua alegria. Era um ódio danado. Talvez, uma disputa direta pelos nossos afagos. Colocamos as duas em quintais separados.
Para nossa surpresa, a tartaruga cruzava a cozinha todo santo dia para dar no quintal
da cachorra. Outra vez, era a Sissi que ia até o outro quintal só para
ficar rosnando para a cascuda. Havia ódio e amor naquela rusga.
A briga só terminou quando a Sissi envelheceu e perdeu a energia da disputa e o prazer da vingança. Já velhinha, queria sossego e paz. A tartaruga ficava no seu canto e não provocava mais.
Agora apenas curtia... o resto curto e sonolento da canina companhia.
*
*
*
Muitas saudades desses tempos... Casas e quintais grandes. Com vários animaizinhos convivendo.. Nem sempre pacificamente.
ResponderExcluirInês, descrevendo linda e graciosamente essa época.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirLinda amizade. E super sincera acima de tudo
ResponderExcluir