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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O AMOR QUE MACHUCA...


Gosto de dois tipos de nordestinos, antagônicos e diferentes. Aquele que fala grosso e é talentoso desde menino, como o Lua, Suassuna, Dominguinhos... E aquele que fala fino. Um tipo franzino de corpo fininho. Mas que dele não se duvide. É cabra da peste, como se fala no Nordeste. Não trate com desdém! Quem tentou, não se deu bem. 

Gilsinho era assim. O melhor jardineiro que já conheci. Bom na tesoura e no cortador. Trabalhava com amor. Cuidava da grama. Arrancava o mato e o espinho da flor. E quando a praga se espalhava pelo chão, fazia uma perfeita catação.

O problema do Gilsinho não era a preguiça. Muito menos a fé. O problema era a “ mulé”! Todo domingo, Gilsinho vinha prosear no nosso alpendre e se punha a lastimar. Amo muito a danada. Mulher boa. Só um pouco destrambelhada. Apronta demais quando bebe. E como bebe, a desgraçada. Cuido dela e dos quatro filhos. Nenhum dos quatro é meu. O problema é de madrugada. Larga eu e os filhos e vai pra balada. Já fui buscar ela travada. E ainda por cima, me trai a desalmada... 

Ouvímos os absurdos, imaginando o descaramento da mulher. E o Gilsinho completava... mas eu amo essa bandida! Desgraça da minha vida. E saia cabisbaixo da nossa casa, por entre a grama aparada e as flores do jardim.

No domingo passado, Gilsinho veio arretado dizendo ter encontrado a solução. Agora já deu! Mandou a mulher embora, Gilsinho? O que aconteceu? Quem vai embora sou eu! Vou voltar pro nordeste. Sou cabra da peste. Aqui fico mais não. A danada me enfeitiçou. Largar dela eu sei que não largo. Mas matar, eu sei que mato! 

Falou com autoconhecimento e as mãos aflitas na tesoura afiada de cortar espinhos.
Faz muito bem. Vai em paz... Gilsinho!

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4 comentários:

  1. Adorei.. a valentia e a sensibilidade do homem nordestino..
    Bem sensata a decisão do jardineiro..

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  2. Uaaaau, dramas do cotidiano! Muito bem retratado! 👏🏻👏🏻👏🏻😘🌹

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    Respostas
    1. Drama mesmo, Carlos... Gilsinho era prisioneiro daquele amor... abraço!

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