Passei
muitas temporadas de férias na cidade de Itanhaém quando pequena. Graças a um
tio que tinha uma linda casinha com uma rampa de pedrinhas, na rua que dava na
praia dos pescadores. Da cidade em si, lembro pouca coisa...
Recordo a antiga ponte de madeira. A cama de Anchieta. A estátua de Mulheres de areia e da novela em sua primeira versão, com Eva Vilma, Ruth e Raquel, e Guarnieri como Tonho da Lua. Além de alguns personagens da rua...
Lembro mesmo é do Seo Alcides. Que eu pensava ser o prefeito da cidade.
Na verdade, ele dirigia o caminhão da coleta de lixo, mas meu tio insistia
em chamá-lo de “prefeito”. Grande sujeito. E tinha a panca e a autoridade do
fictício cargo. Moreno, cara redonda. Um homem forte e meio calado. Metia
medo na garotada. Morava na rua em frente à casa do meu tio e tinha uma
esposa, cujo nome, minha memória seletiva, deixou escapar...
Passei inúmeras tardes sentada na varanda da casa do Seo Alcides, que
tinha um carinho especial por mim, a menor de todas as crianças que passavam
férias em Itanhaém. Éramos muito amigos. O prefeito e eu! Depois de anos, eu já
adolescente, meu tio contou uma história que surpreendeu...
No meio de uma importante reunião da Fiesp, repleta de diretores e
executivos da indústria. Meu tio era pressionado pela queda das vendas,
numa calorosa discussão sobre mercado e crise financeira, quando foi
interrompido pela nervosa secretária que adentrou a sala com o velho telefone
de fio na mão: -Sei que não devia interromper, mas acho que o Sr. Diretor
vai querer atender. Ele disse que é urgente! É o prefeito de Itanhaém...
Meu tio, rápido e astuto, tirou o telefone das mãos da secretária e
atendeu prontamente com ares de poder... O que é que há? Diga lá, prefeito!
Pode falar...
Era o Seo Alcides, o motorista do coletor, parando a reunião da Fiesp!
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