Vó Emília virou uma espécie de anjo pra toda minha
vida. Eu tinha só seis aninhos quando ela se foi. Tão pouco. Tão muito.
Vó entrei na escola! Seu sorriso se abriu naquela
hora. Quando a mente já não lhe dava mais entendimento, entendeu com o coração.
Não falou meu nome. Apenas me pôs no colo e eu segurei sua mão. Tudo ali nos bastou.
Depois da sua partida, uma presença volátil me rondou. Nas horas de angústia eu falava com ela no meu silêncio. Na água do
banho sob o chuveiro. No vão dos pensamentos. Na exaustão dos medos e das
preocupações. Eu imaginava seu colo e o meu repousar sereno. Era o sopro que me empurrava. Luz que acalmava. Alma, que sem eu ver me confortava.
Herdei coisas da vó Emilia que demorei um tempo pra
entender. Ela gostava de comprar casas e depois vender. Comprei algumas. Coisa
de português. Segurança ou apego talvez. Com os anos fui me desprendendo. Vendi
as casas, apartamentos. Agora me basta um lugar. Apenas um lar para descansar. Herdei
seu queixo, sua caixinha de surpresas. Sua força e seu grau de dureza. Vó
Emilia trabalhava sem tempo de sossegar. Também tenho esse tanto de ferro. Difícil
relaxar.
No entanto eu dormia suave em seu colo abraçante. Ninho quentinho. De seios fartos e grandes. Sentia seu perfume. Ouvia seu cantar me
ninando. Hoje ouço sussurros e palavras
ao vento. É na voz dos anjos que ela entoa seus conselhos.
Eu tinha seis anos. Tão pouco. Tão muito. Sei que a Emília me olha e sempre irá me guardar. Não sei se a estrada é longa ou breve para lhe encontrar. Passe o tempo que for, nossa conversa vai terminar.
Porque aquele dia, vó, eu só queria contar como foi
o primeiro dia de escola... será que você ainda se lembra? Posso te contar em silêncio agora?
**************
Sempre fica um vazio que não preenche, quando as pessoas que amamos se vão!
ResponderExcluirVerdadeiro. abços.
Excluir