Ela deve ter sido bruxa ou feiticeira. Umas dessas velhas curandeiras. Neide tem sempre uma receita certeira. Tornou-se enfermeira. Mas há um contrassenso imenso na escolha da honrosa profissão. Ela não gosta de remédio e tem horror a injeção.
No hospital é exímia profissional. Enfermeira padrão.
Ninguém morre em suas mãos. Fiel aos protocolos. Quando é preciso leva
o paciente no colo. Mas em casa é só pajelança. Sem o aval da ciência ou
indicação de bula. Diz que a natureza é quem cura.
Trevo pra enriquecer. Sal grosso debaixo da cama pra
afastar fulana. Alecrim de rama pra dinheiro e fama. Alho contra inveja e
maldade. Orégano nas costas pra trazer felicidade.
Na semana em que tudo me deu errado,
encontrei a Neide na porta do mercado. Deu logo diagnóstico e mandou seu recado: joga fora
o bromazepan. Isso é coisa do diabo!
Depois benzeu com a mão a minha testa e me deu um alecrim.
No fim, mandou queimar louro na panela de barro. Obediente como sempre, fiz o
preparo. O fumaceiro invadiu a cozinha e o cheiro forte saiu por debaixo da
porta e chegou até a vizinha. Respirei com os olhos lacrimejantes aquele remédio de amor, cheia de fé e sem desdenhar. Vai que dá!
Passou um mês e minha vida retomou ao seu normal. O estresse pontual foi saindo aos poucos como haveria de ser. Claro que lhe avisei, dando créditos à
receita, afinal Neide é certeira. No tempo da Covid não negou ajuda,
nem fez desdém. Na enfermaria salvou mais de cem. Agradecida, chegava feliz contabilizando mais uma vida.
Neide não imagina o ser humano que é. E o poder que
tem. O louro queimando é seu amor se espalhando. Um outro tipo de remédio... que
também faz bem.
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