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quarta-feira, 6 de março de 2024

REMÉDIO OU FEITIÇO?



Ela deve ter sido bruxa ou feiticeira. Umas dessas velhas curandeiras. Neide tem sempre uma receita certeira. Tornou-se enfermeira. Mas há um contrassenso imenso na escolha da honrosa profissão. Ela não gosta de remédio e tem horror a injeção.

No hospital é exímia profissional. Enfermeira padrão. Ninguém morre em suas mãos. Fiel aos protocolos. Quando é preciso leva o paciente no colo. Mas em casa é só pajelança. Sem o aval da ciência ou indicação de bula. Diz que a natureza é quem cura.

Trevo pra enriquecer. Sal grosso debaixo da cama pra afastar fulana. Alecrim de rama pra dinheiro e fama. Alho contra inveja e maldade. Orégano nas costas pra trazer felicidade.

Na semana em que tudo me deu errado, encontrei a Neide na porta do mercado. Deu logo diagnóstico e mandou seu recado: joga fora o bromazepan. Isso é coisa do diabo!

Depois benzeu com a mão a minha testa e me deu um alecrim. No fim, mandou queimar louro na panela de barro. Obediente como sempre, fiz o preparo. O fumaceiro invadiu a cozinha e o cheiro forte saiu por debaixo da porta e chegou até a vizinha. Respirei com os olhos lacrimejantes aquele remédio de amor, cheia de fé e sem desdenhar. Vai que dá!

Passou um mês e minha vida retomou ao seu normal. O estresse pontual foi saindo aos poucos como haveria de ser. Claro que lhe avisei, dando créditos à receita, afinal Neide é certeira. No tempo da Covid não negou ajuda, nem fez desdém. Na enfermaria salvou mais de cem. Agradecida, chegava feliz contabilizando mais uma vida.

Neide não imagina o ser humano que é. E o poder que tem. O louro queimando é seu amor se espalhando. Um outro tipo de remédio... que também faz bem.


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